Vez por outra pintam alguns
artistas que cantam em espanhol no meu fone de ouvido. Entendo aqueles com
dificuldades relacionadas ao idioma, mas vale ressaltar que, passada essa fase inicial
de adaptação, o novo mundo musical que se abre oferece discos e canções
inesquecíveis. Caso de Algo Sucede, da
cantora mexicana Julieta Venegas.
Lançado em agosto do ano passado,
o álbum oferece 12 canções quase irrepreensíveis. Pop, no bom sentido, até
dizer chega... Ou melhor, repeat. A
sonoridade das músicas acena um pouco à década de 80, mas turbinada por timbres
e levadas que também remetem ao indie pop
deste novo milênio. Tudo isso com o frescor latino-americano de Julieta, que
faz toda a diferença quando as canções começam a aparecer.
Aliás, a primeira faixa já dá a
medida do que vem pela frente. “Esperaba” bebe na fonte de “Lisztomania”, da
banda francesa Phoenix. Dançante, delicada e com uma letra que homenageia o
cantor e compositor argentino Charly García. “Las canciones de Charly sonando
en tu casa / Me hacían flotar sobre Buenos Aires / Sobre el mundo enterro / Sobre
el universo.”
Daí em diante, até a sexta faixa
do disco, nenhuma canção é dispensável. Da baladinha fofa com refrão lindo “Tu
Calor”, passando pelo balançado – e ótimo – primeiro single do disco, “Esse Camino”, e pelo pop cheio de teclas de “Algo
Sucede”, que dá título ao álbum, Julieta bate no peito e chama para si a
responsa de fazer música pop elegante e dançante, mesmo que isso não vá curar
as agruras do mundo. Ao menos, do exterior.
Sim, porque música também é
exorcismo. Principalmente, dos nossos demônios interiores. Neste quesito, “Uma Respuesta”
e “Buenas Noches, Desolación” compõe uma dobradinha matadora. Enquanto a
primeira, uma balada agridoce que fala sobre a necessidade de cantar a sua dor
e de entender que para muitas coisas não há explicação – Esa es la vida, la
realidad se impone / Sobre la melodía –, a segunda, parceria entre Julieta, Ale
Sergi e López, oferece uma mensagem tão bonita e positiva que fica difícil não
se emocionar.
“Buenas noches, desolación / Ya
no quiero nada contigo, no / Buenas noche y desde hoy / Volveré siguiendo otro caminho
/ En verdad nunca me arrepentí / Todo lo vivido me ha servido / Todo viene y
va, y yo sigo entero aqui / Ya no necesito, de tu compañía”, canta Julieta no
trecho mais belo da canção, que ofereço a todos aqueles que têm passado por problemas
aparentemente irresolúveis, às vezes, em sequência. Um brinde ao sol que vai
nascer logo, logo.
“Dos Soledades” e “Se Explicará”
vêm em seguida. Apesar de não apresentarem nenhum defeito aparente, não
conseguem manter o nível das faixas anteriores. De qualquer forma, as próximas
canções retomam o bom ritmo do álbum. Movida por cordas e piano, “Porvenir”
mostra a cantora exibindo sua pequena voz, mas muito segura de si; “Parte Mía”
soa um pouco mais eletrônica e pop, com uma batidinha clichê para grudar nos
ouvidos.
O disco chega ao fim com duas
ótimas canções: “Explosión” volta à batida das primeiras canções do álbum, com
maestria e alto teor dançante. Em seguida, Julieta desacelera novamente, mas
por um bom motivo. Na balada “Todo Está Aquí”, ela defende mais uma letra curta
e direta, mostrando que a vida, apesar de tudo o que nos atrapalha, é urgente. “Todo
esta aquí / Todo esta aquí / No me hagas pensar en lo que vendrá después.”
Fui. Vou ali ser feliz e já
volto.
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