Algumas coisas nos fazem ter exata noção do tamanho de nossa insignificância. Comigo já aconteceu por diversos motivos, como ao ler a biografia do mestre João Saldanha e ver o quanto/e como ele fez nesse mundo e pensar em como sou vazio, por exemplo; ou mesmo ao presenciar momentos de solidariedade e me questionar se eu seria capaz de algo próximo ao menos.
E acabo de passar por um desses momentos, pois assisti ao documentário Três irmãos de sangue, filme sobre os irmãos Henfil, Betinho e Chico Mário, três sujeitos fantásticos, talentosos e sensíveis, que nasceram hemofílicos e terminaram vítimas da AIDS. O filme percorre a biografia dos três, abordando sua importância artística e social, e além de reafirmar o quanto foram produtivos em suas respectivas áreas de atuação, é um filme político – como não poderia deixar de ser –, equilibrando emoção e razão para tratar de liberdade, justiça, solidariedade e amor ao Brasil e às pessoas.
E entre tanto a se refletir, acabei em mais um incômodo reconhecimento de meu egoísmo. Já no começo do filme, Betinho aparece levantando a bandeira da “ação”, falando sobre a importância das pessoas serem menos teóricas e agirem mais, e foi impossível não pensar no quanto, hoje, ando o extremo oposto disso aí, vivendo fechado não só no meu apartamento, mas cada vez mais dentro de mim. E mesmo em reflexões sobre a beleza e a necessidade de se aproveitar cada momento da vida, acabei me vendo ao contrário.
Até porque é natural que eu me questione de que maneira vim parar em como me encontro atualmente. Há muito venho vasculhando como venho levando minha vida de forma egocêntrica e as consequências disso. Até quando penso em meus relacionamentos amorosos ‘de verdade’, vejo o quanto agi de forma egoísta e o quanto isso na verdade pode ter sido a causa dos rompimentos – “todo amor que eu amei, no fundo eu dediquei a mim e a mais ninguém”, sabe?
E, sem precisar pensar muito, fica claro o quanto essa característica é na verdade a gênese de minha solidão atual, o que me fez chegar ao ponto de não conseguir me aproximar mais das pessoas – e não é só de relacionamentos amorosos que falo aqui – e nem deixar que se aproximem. Há uma passagem bem emocionante no filme que mostra uma fita que Betinho gravou para a mãe quando estava no exílio, mandando notícias e tranquilizando-a de que estava vivo. E ao falar do irmão Chico Mário, diz que ele está um músico e cantor cada vez melhor, mas deveria melhorar como letrista. Em sua concepção isso acontecia porque o irmão vivia a vida como quem estava a assistindo...
Recomendo a todos que procurem o filme, não há como não se sentir mexido com pelo menos algum dos aspectos abordados neste bonito documentário. A vida desses três brasileiros tem muito a acrescentar e pode servir de reflexão sobre como andamos levando nossa vida. Mesmo que às vezes sejamos levados a uma espécie de autoanálise rasteira e, errr, egocêntrica como esta que acabo de cometer.
Chico, Henfil e Betinho |
Este texto é dedicado à Ingrid, grande amiga tão querida – e botafoguense! – que me indicou o filme há anos atrás e com quem, se não estivéssemos distantes espacialmente, certamente desenvolveria melhor os temas abordados aqui, em uma de nossas intermináveis conversas.
Por Ricardo Pereira
Corajoso vc se espor assim, fico até sem jeito do q falar sem conhecer vc, só q parece q conheço através do q vc escreve.
ResponderExcluirVc se cobra mt, tenta ser mais relaxado com as coisas, a vida fica mais fácil eu acho.
Desculpa se estou me intometendo mt, adoro seus textos. Vou procurar o filme.
Michelle Tavares
Mano Ricardo... Lindo texto, cara. Se me permite, concordo com cada palavra que você colocou nele. Abraços e saudade!
ResponderExcluirObs: esse documentário é FODA demais... Emocionante.
Ah, é o Hugo!
ResponderExcluirOi Michelle, obrigado pelo elogio. Não precisa se preocupar, a partir do momento que publico aqui, tem todo o direito de se intrometer :)
ResponderExcluirOi, Hugo, que bom que gostou, cara! Verdade, é foda demais mesmo! Abs