"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Um dia na vida (morte)

A primeira vez que eu fiquei realmente cara a cara com a morte não teve ligação com alguma perda familiar. Quer dizer: isso se você acreditar que os parentes têm que ser de sangue para serem considerados, digamos, oficiais. Comigo não funciona assim.
Acho que foi em 2007 ou 2008. Trabalhava num jornal semanal de Angra dos Reis, o Maré. Não me lembro o dia e muito menos o mês, mas sei que, pela manhã, recebi uma ligação de um grande amigo, Gláucio, me contando que a mãe de outro parceiro, Rodrigo "Squitch", havia falecido.
Foi foda. Nunca tive contato com a famosa "Dona Creuza". Havia falado com ela em uma ou duas ocasiões, no máximo. Mesmo assim, senti o baque como se tivesse perdido uma conhecida. Melhor: uma pessoa querida.
Gláucio e Squitch participaram dos "anos dourados" da minha adolescência/começo da vida adulta. Tinhamos uma bandinha, a Malkavianos, e nos divertimos horrores entre 1997 e 2001. Vivemos intensamente, mas, ao contrário do que dizia uma de nossas canções, não morremos loucamente. Estamos aí até hoje...
Assim que fui informado do acontecido, entrei em contato com Ricardo - sim, o outro responsável por este blog. Ele também estava trabalhando, mas arranjou um tempinho para consolar nosso amigo em comum.
Quando chegamos na casa de Squitch, onde sua falecida mãe se encontrava, aí o negócio ficou sério. Enquanto Rodrigo, junto com seu cunhado e seu irmão mais velho, acertavan detalhes burocráticos quanto ao enterro, eu, Ricardo, Gláucio e Cecel - outro companheiro de longa data - ajudamos a carregar o caixão, já com o corpo da senhora. Foi estranho. Quatro companheiros de shows, biritas e noitadas ali, segurando a mãe de outro amigo. Ficamos em silêncio nesse momento e, depois disso, acho que conversamos apenas sobre banalidades... Coisa de quem não tem o que falar numa hora dessas.
Outros amigos e amigas foram chegando. Abraços, beijos, palavras de consolo. Bebemos uma cervejinha também, na hora do almoço... E até conseguimos tirar alguns sorrisos do rosto de Squitch, um cara conhecido justamente por fazer a alegria de todos com suas piadas/tiradas. Mas até os bem-humorados choram, né? Com Rodrigo não foi diferente.
O velório foi triste, como não poderia deixar de ser. Várias coisas passando pela minha cabeça. "Um dia eu vou passar por isso" e "Como esse cara está aguentando essa barra?" eram os pensamentos mais recorrentes.
Corta para o enterro. Clima pesado. Um padre/pastor - também não me recordo - falava sobre como a mãe de Squitch era querida, e que foi uma pessoa boa durante sua passagem pela terra. Os filhos se abraçaram. Ricardo chorava; Ingrid, outra amiga, também. Comoção total. Acho que apenas eu e o Gláucio não derramamos lágrimas, mas não foi por sermos insensíveis. Na verdade, nem sei o motivo. Mas estávamos arrasados, obviamente. Foi dolorido demais ver um cara que nós amávamos - e amamos - sofrendo daquele jeito. O caixão foi selado. Últimas palavras. Fim.
Mais à noite, alguns amigos ainda se reuniram com Rodrigo, para tentar relaxar um pouco. Estava muito cansado e acabei ficando em casa. Havia sido um dia difícil.
Tempos depois, outros amigos passaram pela mesma situação - Gláucio com um irmão mais novo e Pedro com a avó. O tempo apaga as lembranças? Diminui a dor e a saudade que sentimos?
Fico com um comentário que Squitch fez, numa conversa de bar com o Ricardo.
"Penso nela todos os dias".

Nem sei o porquê deste texto. Mesmo assim, acho que ninguém precisa de motivo para escrever sobre a morte. Ou sobre a vida.
Boa tarde.


Morte? Como assim?

Por Hugo Oliveira

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Falamos que a única certeza na vida é a morte. Engraçado como nunca estamos preparados para ela. A primeira vez que ela se manifestou pra mim foi levando meu pai. Foi a dor mais dilacerante. Um vazio que lhe come por dentro. Um pedaço seu que morre junto. E a partir daí, vc precisa ressignificar sua própria vida.
    Nessa linda frase "Penso nela todos os dias", eu acrescentaria: Como eu gostaria que meu pai estivesse aqui para ver isso.

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  3. Beleza de texto, cara. Dia complicado esse... lembro bem.
    Abs,
    Ricardo

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  4. Agente mal nasce e ja começa a morrer...

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  5. É, Amanda... Até eu, que infelizmente não o conheci, gostaria que ele pudesse ver todas as coisas legais que você vem fazendo... E são muitas! Mas ele já devia saber da sua capacidade e do seu caráter. Beijão e obrigado por ler!

    É, Tino... Dia difícil mesmo... Daqueles de marcar uma turma pra sempre - no caso, a nossa turma. Abraços, mano!

    É, Mariana... O problema é que, na nossa cabeça, estamos vivendo. vai entender esse tal de ser humano! Beijão!

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