"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Canções de Apartamento - Cícero

Eu tentei não gostar do disco do Cícero. Ouvi, pela primeira vez de má vontade, os comentários que li, embora me deixassem a curiosidade de conhecer, me passaram de leve a impressão de mais um neo-hippie dessa “nova MPB”. Preconceito motivado pela vergonha alheia da Banda mais - escolha o adjetivo - da cidade. De cara achei os títulos das músicas pretensiosos e, por tudo isso, ouvi com pouca atenção, enquanto fazia outras coisas. Mal sabia o quanto estava enganado.

Mas algo me chamou a atenção ali, tanto que, no dia seguinte, fui pro trabalho ouvindo, e o disco cresceu bastante na segunda audição, com a atenção e proximidade proporcionadas pelos fones de ouvido. Na terceira, já estava encantado. E de lá pra cá foram várias audições, que, cada vez mais, me fazem ter a certeza de que Canções de Apartamento é um dos discos mais bonitos lançados em 2011.

Como o título do álbum anuncia, é um disco fechadinho, intimista, como fosse uma versão musical do Viagem ao redor do meu quarto localizada no século XXI. Cícero canta, adornado por melodias delicadas, mas não sem certa dose de tensão, o amor nos dias de hoje, as belezas e angústias de viver num mundo complicado, povoado de pessoas cada vez mais individualistas e solitárias.

Musicalmente, é um disco de MPB, com bonitos violões e a presença marcante do acordeon de Bruno Schulz. Mas percebemos claramente ecos do Radiohead nas belas guitarras que permeiam todo o disco, como na segunda metade de ‘Vagalumes Cegos’, ou no coro de ‘João e o Pé de Feijão’. É um disco cheio de referências - nas letras são citados Caetano, Braguinha, Tom - e interessantes relações intertextuais, como a linha vocal de ‘João e o Pé de Feijão’, evocando ‘You don’t know me’, e o diálogo com a Dindi, de Tom Jobim, em ‘Pelo Interfone’.

Esta última, uma de minhas preferidas do álbum, em que o eu - lírico aconselha: “Ah, Dindi / Se tu soubesses como machuca / não amaria mais ninguém”. Mas minha letra preferida é a de ‘Açucar ou adoçante’, que mostra um encontro de ex amores depois de todo o vazio da perda e de uma reconstrução. Compartilham o café, relembram momentos marcantes, mas, juntos de novo? Bom... Veja o refrão: “Mas se você quiser alguém pra amar / Ainda (...) Desculpa não vai dar / Não vou estar / Te indico alguém”.

Além disso tudo, é bom, nesses tempos em que a maioria dos artistas prefere lançar discos com alguns singles e músicas medianas para completar espaço, poder encontrar um álbum que funciona melhor quando ouvido na íntegra, deixando que as canções partam do apartamento de Cícero para transformarem-se em trilha sonora do seu.

Baixe Canções de Apartamento aqui, você pode até tentar não gostar, mas o provável é que se repita o que aconteceu comigo...


Por Ricardo Pereira

7 comentários:

  1. definiu sua música predileta,, eu ainda tenho duvida,, sobre ela ...vagalumes cegos que obivio não é só pela beleza e harmonia mas por contar histórias particulares nas entrelinhas.

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  2. Quando ouço Cícero, tenho vontade de voar!!!

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  3. Tá aí uma resenha que torna o disco irresistível, gostando ou não de MPB.

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  4. Diana, eu tinha certeza de que você gostaria do disco desde o começo, antes mesmo de eu gostar! É difícil mesmo escolher uma preferida, como escrevi, é um disco bom de ouvir na íntegra.

    Mariana também já mostrei sabendo que gostaria.

    Poxa, Mayra, obrigado! Assim que conseguir ouvir, me diz o que achou.

    Beijos

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  5. adoroooooooooo!!!!!!!!!!
    todas as músicas, simplesmente.. rs

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  6. Olá, Ricardo! Teu texto ficou lindo. É uma ótima reflexão sobre o que o belíssimo trabalho do Cícero pode transmitir.

    Por favor, envie o teu e-mail para este: fabio-allex@hotmail.com

    Quero te enviar um material.

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