Este ano o segundo álbum do Los Hermanos, Bloco do Eu Sozinho, completa dez anos de seu lançamento. Conheci a banda através do Hugo, meu companheiro de blog. Lembro bem, ele me ligou e falou para eu passar no trabalho dele, pois precisava me mostrar uma música. Era ‘Anna Júlia’, em um cd que veio encartado na revista Bizz. Na hora percebi ali uma canção pop perfeita, tudo no lugar certo. Assim que saiu, adquiri o disco de estreia dos Hermanos e ouvi por bastante tempo, até hoje acho um disco divertido. Mas de forma alguma estava preparado para o que vinha em seguida.
Assisti ao pequeno show do Los Hermanos no Rock in Rio, em 2001, e gostei bastante do que vi: um show pesado, rápido, urgente. No entanto, talvez pela massificação de ‘Anna Júlia’/’Primavera’, não tinha boas expectativas para o segundo disco da banda. Tanto que, assim que saiu, não tive a pressa costumeira em conhecê-lo. Mas quando uma vizinha de extremo mau gosto comentou que havia comprado e tinha odiado, pois “não tinha nenhuma ‘Anna Júlia’, era um som confuso, diferente”, comecei a me interessar. E um dia que precisei ficar uma tarde na loja do meu pai, peguei o disco para ver se compraria de uma loja de discos que tem ao lado e que tenho certas ‘facilidades’ (uma benção!). Lembro de cada sensação ao ouvir aquelas canções pela primeira vez.
De primeira, o single de lançamento, com o sintomático título ‘Todo carnaval tem seu fim’, já deixou boa impressão, havia peso ali, mas diferente do primeiro disco, e a letra era melhor do que qualquer uma do anterior. O disco seguiu com ‘A Flor’, rock vigoroso, dueto de Camelo e Amarante e outra letra muito boa. Os sinais de evolução já eram evidentes, mas a partir da terceira música o bloco começava a evoluir: ‘Retrato pra Iaiá’ já era bem diferente do que faziam até então, uma guitarrinha ‘frouxa’ (no bom sentido) em um quase-reggae envolvente e um grande refrão. Daí começou o encantamento, que só fez aumentar com ‘Assim Será’, samba torto com letra impregnada de melancolia romântica, e a beleza weezeriana de ‘Casa Pré-Fabricada’. O disco nem chegara à metade e o jogo já estava ganho de goleada. ‘cadê teu suin-?’ veio na cola, com letra formada com jogos fonéticos contendo críticas à indústria fonográfica, e a 7, ‘Sentimental’, é uma das baladas mais bonitas do rock nacional, na primeira audição só pensava em ‘Thru the Eyes of Ruby’, uma das minhas preferidas dos Smashing Pumpkins.
A segunda metade inicia com um skazinho acelerado, ‘Cher Antoine’, com letra em francês e português e mantém o ritmo com outro ska, ‘Deixe Estar’, um dos melhores momentos dos metais no álbum. A décima canção do álbum me ganhou pela simplicidade, uma espécie de valsa circense com banjo, flauta, clarinete e tuba, e letra simplória mas combinando com o clima da música. ‘Fingi na hora rir’ retoma o peso do disco com suas microfonias, andamentos diferentes e dose extra de tristeza. Fiquei encantado com a letra da delicada ‘Veja bem meu bem,’. Meu pensamento então foi que uma banda de rock, da minha geração, estava lançando um disco com uma letra que poderia ser do Paulinho da Viola. E pra mostrar a um ouvinte desavisado que a banda era a mesma do primeiro disco, a penúltima, ‘Tão Sozinho’ é um hardcore pesado, sujo e tosco se comparado às demais. E a escolhida para fechar o álbum é a lindíssima ‘Adeus você’, com linda orquestração no fim e últimos versos que funcionam como carta de intenções do bloco: “É bom, às vezes, se perder sem ter porque, sem ter razão. É um dom saber envaidecer, por si, saber mudar de tom. Quero não saber de cor, também. Para que minha vida siga adiante...”
É um dos discos de música brasileira mais importantes das últimas duas décadas e influenciou grande parte do melhor produzido por aqui nos últimos anos. Entre parte dos meus amigos teve o efeito parecido que deve ter tido o lançamento do ‘Dois’, da Legião Urbana para os jovens de 86. Lembro dos comentários entusiasmados assim que encontrei o Hugo após conhecermos o disco; o show de lançamento com o Rodrigo em um Canecão pela metade, mas cantando todas as músicas, prenunciando a era Ventura; os diversos shows compartilhados com Pedro Henrique, Luisa, Marcella... E a confirmação da relevância dessas canções quando, dez anos depois, em uma jukebox de um bar qualquer, os mesmos amigos cantam emocionados como se estivessem novamente em 2001.
- Feito pra mim, bom pra você. Deixa mudar e confundir! |
Por Ricardo Pereira
Putz, 10 anos cara... Foi o álbum que começou a abrir a minha cabeça para a música brasileira. Obra-prima total. Muito feliz por ter vivido esse disco intensamente.
ResponderExcluirÓtima lembrança, mano... E ótimo texto!
Sem dúvidas o melhor álbum (na minha opnião) não só dos Los Hermanos, como também das bandas nacionais.
ResponderExcluirAmo desde a primeira faixa até a última, com um brilho extra pra sentimental.
ana beatriz
Valeu, Hugão! É isso aí mesmo, o disco certo, na hora certa.
ResponderExcluirOi Ana, Sentimental é uma beleza mesmo. Como diziam na época, algo entre Smashing Pumpkins e Guilheme Arantes rs
"Fingir na hora rir", "Assim será" e "Cadê teu suin?" são as minhas favoritas!
ResponderExcluirO começo do Los me traz de volta uma época tão única, que cada música me remete a algo ou a alguém.
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ResponderExcluira letra de "todo carnaval tem seu fim" ja deixa claro o que eles trariam em suas musicas dali pra frente, nao digo so no Bloco, mas em todos os álbuns a se seguir..
ResponderExcluirCaramba, Anônimo, escolher três é difícil demais... Mas, vamos lá, já me arrependendo: "Assim Será", "Retrato pra Iaiá" e "Casa Pré-Fabricada".
ResponderExcluirVerdade Mariana, é um disco que vivemos intensamente, como disse o Hugo esses dias.
Tem razão, Marcelo. Na verdade, há em várias, né? Em "Todo carnaval...", a parte em português de "Cher Antoine", o final de "Adeus você"...