"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Não aprendi dizer adeus


No Ao vivo no morro, do Revelação, ao apresentar a canção título de seu último álbum de estúdio, “Aventureiro”, Xande de Pilares discursa: “Muita gente diz que essa música é machista. Não é machista, não! Acho que quando a gente não tá a fim, tem que falar mesmo: ‘não quero mais’. Ser sincero não é vergonha. Ser aventureiro também não é vergonha. Basta ser um aventureiro sincero”.

Com sensatez, seu mantra ainda adverte: “muita calma nessa hora!”. Gostaria mesmo de possuir a calma para levar melhor esse momento. Acostumou-se a ser deixado na maioria das vezes, e nem percebia o quanto era fácil fazer-se de vítima, portar-se como um personagem de uma música do Weezer ou do Sopra. Faz um drama, viu que perdeu e chora, ainda tinha a desculpa perfeita para chafurdar no cancioneiro brega que tanto apreciava.

Nunca imaginara o quanto era mais difícil estar do outro lado. A culpa, o incômodo, a sensação de estar errado fazendo o que julgava certo. Não é tão fácil ser um ‘aventureiro sincero’ quando a outra pessoa é tão gente boa, preenche os requisitos imaginados para ser sua verdadeira paixão. Não conseguia deixar de pensar o quanto é pior magoar do que ser magoado.

Sentia-se impotente perante os desígnios das trilhas do amor. Havia deixado o amor entrar na sua vida, conseguira viver o presente, sem se importar com o passado. Sentia o coração radiante, num daqueles momentos em que o amor parece sem fim. A gente sabe, no auge da paixão, sentimo-nos capazes de tudo, e nada de pensar em despedida...

... no entanto como entender as linhas traçadas pelo compasso do amor? As artimanhas de um destino insensato acabaram o levando a novos tempos. Era preciso realmente muita calma para conseguir enxergar através das grades do coração, deixar acontecer naturalmente e entender que as coisas acontecem do jeito que a vida quer.

Os amigos o bombardeavam com todo tipo de conselho, acusavam-no de medo de amar, pediam que ele baixasse a guarda de seu coração blindado. Que esquecesse de esquecê-la, pois poderia nunca mais encontrar a pura essência da paixão.

Talvez, quem sabe? Mas não adiantava mais ficar se culpando. Se tivesse o poder, faria com que tudo fosse mais fácil, mas, como não era o caso, ajoelhou tem que rezar: era o momento de seguir em frente, vestir o manto de sua sinceridade aventureira e errar como todo mundo, afinal o show tem que continuar e sempre podemos escolher entre a madrugada fria e a luz do alvorecer. 


Por Ricardo Pereira

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