"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sexta-feira, 30 de março de 2012

Canções para moradia


Às vezes me assalta a sensação de não pertencimento ao mundo. Algo que, à primeira vista, parece um sentimento adolescente – e não deixa de ser... –, no entanto, ataca na idade adulta de outras formas. No meu caso, sinto-me assim por não me sentir ajustado à competitividade reinante, ao modelo apresentado como ideal de vida para as pessoas.

E, de repente, vem a vontade de fugir, vontade de morar em filme, morar em disco. Cheguei a pensar que a morada ideal para mim num dia como hoje pudesse ser um álbum da Joanna Newsom, porém, ouvindo o maravilhoso Songs for begginers, primeiro álbum solo do Graham Nash, senti que ali estaria meu esconderijo ideal.

Durante “There’s only one”, tive, por um breve momento, a impressão que uma canção dessas contém mais beleza do que o resto do mundo todo. Pensamento imbecil, ingênuo, escapista, chame como quiser. Fui apresentado a este disco no começo do ano - ou fim do ano passado - por meu amigo Cecel e, desde a primeira audição, fiquei encantado. É como se Nash fosse Harrison, Lennon e McCartney juntos em um disco só.

E, à medida que vou ficando mais íntimo do álbum, encanto-me mais, vejo mais beleza. Beleza de um tipo que pode salvar uma vida, construir um mundo imaginário onde valha a pena habitar. Desde a força para seguir em frente cantada em “Better Days”, brincando de morar em disco, vejo a minha frente, como fosse um filme, castelos de areia desmoronando e o sujeito que costumava ser um rei converter-se num homem simples, que, cantando uma simples canção, sabe que precisa da pessoa especial que lhe dá força, que o torna real.

E permito-me residir por ali pelo tempo que for necessário. Sejam os trinta minutos de uma audição ou a eternidade de beleza e encantamento responsável por me fazer acreditar que uma canção pode até não mudar o mundo, mas é capaz de transformar o meu, tornando-me mais apto a enfrentar a realidade e mostrando que minha simplicidade, de uma forma ou de outra, encontra eco entre sonhos e sons atemporais. 


Por Ricardo Pereira

Um comentário:

  1. Te entendo perfeitamente. Tenho sérios problemas pra me encaixar no mundo e na forma como as "coisas são". E acredito no poder das canções, seja pra me fazer compreender algo melhor, seja pra tirar um sorriso do meu rosto por me fazer lembrar de algo, etc etc.
    Ultimamente tenho tido fascinação por Crosby, Stills e o Nash, apesar de não ter ouvido ainda quase nada, e esse disco eu vou ouvir muito em breve.

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