Acompanhei com atenção às
notícias relacionadas ao desaparecimento e à busca de Rian Brito, neto de Chico
Anysio. A história começou a se desenrolar no dia 23 de fevereiro, quando o
jovem de 25 anos, ao ser deixado na frente da autoescola que cursava, faltou à
aula e deixou a família em estado de alerta ao não dar mais nenhuma informação
sobre seu paradeiro.
A apreensão inicial dos
familiares e amigos se transformou em constatação: Rian havia sumido. Ele
deveria ter ligado para a mãe, Brita Brazil, na intenção de que ela o buscasse
na autoescola, mas não houve ligação – o celular de Rian estava em casa. Após
24 horas de espera, a negativa de um contato sequer partindo do filho fez com
que Brita fosse à 15ª DP. No dia seguinte, Nizo Neto, o pai, procurou uma
delegacia especializada para descrever o problema pelo qual a família passava.
Seguiu-se o drama; formou-se a pergunta. Onde está Rian?
Choveram publicações na internet,
divulgando o desaparecimento do jovem e também buscando quaisquer informações a
respeito da localização dele. O pai, numa gravação veiculada num programa
televisivo de grande audiência, fez um apelo emocionado por pistas que levassem
ao filho. Sobrava esperança, mas faltavam dados concretos. Por pouco tempo...
A imagem de Rian saindo do
Shopping Fashion Mall, em São Conrado, no Rio, para em seguida dar sinal a um
táxi e adentrar o veículo, chegou a mim através de algum telejornal noturno. Na
filmagem, realizada no dia do sumiço, às 13h20, o jovem caminha aparentemente
tranquilo à saída do shopping, sozinho. Em seguida, acena com a mão direita
para o táxi que passa, um Chevrolet Spin. E entra. O destino é desconhecido. Ao
menos, ainda era.
Em entrevista ao RJTV, no dia 26
de fevereiro, Nizo falou sobre o desaparecimento do filho. “Tudo indica que não
encaminha para sequestro ou morte. Ele gosta de fazer umas trilhas, gosta de
passar um dia inteiro no mato às vezes, é uma coisa que ele curte. Mas já são
três dias. Mesmo assim, ele foi para a aula, não entrou, sacou algum dinheiro, não
se sabe a hora, mas foi nesse dia, no banco."
Estaria Rian querendo um momento
de tranquilidade, ansiando por ficar longe de tudo –e de todos – por alguns
dias? Acredito que este é um desejo comum a muitas pessoas, principalmente em
determinadas fases e situações da vida. Mas não avisar sobre o paradeiro,
estendendo o momento por mais de uma semana, a ponto de a família procurar pela
polícia e apelar aos meios de comunicação e às redes sociais? Algo estava
errado.
Vocalista da banda Call It Fornication,
um grupo dedicado ao repertório do conjunto Red Hot Chili Peppers, Roko Souza
falou à imprensa sobre o neto de Chico Anysio, já que o próprio havia integrado
o grupo durante dois anos em meio, como baixista. Em entrevista ao site Ego,
ele afirmou que Rian passou por tratamento psicológico, tendo inclusive sido
internado em uma clínica.
"Nos anos que ele tocava com
a gente, o Rian estava muito feliz. Ele morava no Rio e pegava vários ônibus
para nos encontrar para tocar com a gente nos shows. Nunca demonstrou nenhum problema",
lembrou o vocalista da banda. Rian deixou o conjunto há dois anos, e o contato
entre ele e o grupo foi rareando. Em 2015, a mãe do ex-baixista procurou Roko,
que declarou ao site o que aconteceu a partir disso.
“Ela pediu para levar o Rian no
nosso show, em São Paulo. Quando eles chegaram, Rian estava irreconhecível.
Trazia uma feição vazia. Parecia estar com depressão. Não assimilava as coisas
em volta, não lembrava das brincadeiras que fazíamos e nem reconheceu o dono do
bar no qual tocamos muitas vezes juntos. Parecia não estar muito bem. A mãe
dele mesmo nos contou que ele havia sido internado para tratamento
psicológico."
Procurado pelo mesmo veículo de
comunicação, na intenção de oferecer a sua versão do que foi contado pelo
vocalista da Call It Fornication, Nizo Neto esclareceu que o filho era adepto
da terapia, mas que não apresentava nenhum problema psicológico. "Ele
fazia terapia normalmente, como eu faço. Nada demais. Ele estava muito bem.
Fazia faculdade, aula de autoescola. Normal."
Praia do Paulista, município de Quissamã
– Norte Fluminense. No domingo, 28 de fevereiro, um rapaz caminha pelas areias
da praia quando avista algo à frente. Chegando mais perto, ele vê que se trata de
documentos pessoais, um cartão bancário, uma camisa e um par de chinelos. Ele
leva o que encontrou para casa.
Dentro de sua residência, resolve
assistir ao televisor. O apresentador de um programa jornalístico fala sobre as
novidades do caso Rian: as imagens das câmeras de segurança da Rodoviária Novo
Rio mostram que ele entrou num ônibus com destino a Quissamã, sozinho, numa data
indeterminada a partir do desaparecimento. O portador dos pertences resolve
verificar a identidade encontrada por ele, e vê as que a imagem do documento
bate com o que ele viu no telejornal. Decide que no outro dia, segunda, irá até
a delegacia mais próxima, para entregar os objetos encontrados à polícia.
Com fortes indícios de que Rian
poderia estar naquele local, policiais e bombeiros iniciam as buscas no Parque
Nacional da Restinga de Jurubatiba e em pousadas nos arredores. Na
quinta-feira, 3 de março, numa região conhecida como Vala da Lagoa Preta,
dentro do parque, um corpo sem vida é encontrado.
O tenente Amaro Garcias,
coordenador de Defesa Civil de Quissamã, foi o primeiro a chegar ao local. “É
ele. O local é distante, com muita areia, mas identificaram por causa da
pulseira e da correntinha que ele estava usando. Pelas características, o corpo
é dele. Com certeza ele morreu no mar", declarou o tenente ao globo.com.
De alguma forma, minhas suspeitas
levavam a um desfecho deste tipo. Assim que li as informações divulgadas na
mídia e assisti aos apelos de familiares e amigos pelas redes sociais, lembrei-me
da história de outro jovem. Chris McCandless, um rapaz de família rica do Leste
americano que largou tudo, viajou para o Alasca e acabou morrendo de inanição.
A tocante – e verdadeira – trajetória de Chris foi contada no ótimo livro Na Natureza Selvagem, de Jon Krakauer.
Além disso, a história também ganhou uma versão cinematográfica em 2007.
Para além de teorias exóticas ou
generalizações injustas tanto à família de Rian quanto à memória do jovem, existe
uma forte curiosidade – ao menos de minha parte – àqueles que decidem fugir da “vida
normal” em busca de algo maior, que dê sentido à existência. Parecia-me que se
tratava exatamente disso: um jovem que resolveu se afastar das preocupações
mundanas, em busca do que é realmente essencial.
Mas agora, ao escrever o final deste
texto, leio informações divulgadas pelo jornal Extra em que a mãe de Rian fornece
dados importantes. Ela revela que ele tomava chá de erva alucinógena, do tipo Ayhuasca,
numa seita intitulada Porta do Sol. O texto é longo, e inclui a carta exclusiva
que Brita enviou ao jornal, além da opinião da dirigente-fundadora da seita no
Rio. Sugiro que leia e tire suas conclusões –
http://goo.gl/P8guVz.
Por aqui, permaneço com muitas
dúvidas e algumas constatações. De qualquer forma, a natureza é selvagem, e os
seres humanos, complexos. Dessa mistura, nascem histórias doloridas como a de
Rian, onde não sabemos se existem culpados ou vítimas. Apenas que elas
machucam.
Precisamos falar sobre Rian, mas
não superficialmente. Respeitando a dor da família e dos amigos, assim como toda
e qualquer religião, o caso abre precedentes à discussão sobre a utilização do
chá de Ayahuasca – Santo Daime – para fins religiosos. Não é a primeira vez que
a bebida aparece na mídia ligada a fatos negativos, mas também existem centenas
de relatos alusivos aos benefícios de quem faz uso.
Livres para escolher, seguimos
nossos caminhos.
Esta vida é mesmo estranha.
Por Hugo Oliveira