Já havia encomendado
até o atestado de óbito do blog. Não via mais este espaço produtivo e, pouco a
pouco, a cada dia de silêncio, a certeza do fim instalava-se tanto para mim
quanto para Hugo, grande amigo com quem divido o Talk about the passion, repositório de rabiscos irregulares sobre
preferências musicais, literárias, cinematográficas, pessoais. Pequeno universo
virtual composto de textos muitas vezes imperfeitos, repletos, no entanto, de
uma força vital originada de uma sem-cerimônia característica dos que não temem
os riscos de uma escrita passional.
Verdade que, nos
últimos meses, venho relegando o blog a segundo plano. Imperdoável que não
tenha escrito sobre a trilogia BANE, brilhante obra teatral do dramaturgo
inglês Joe Bone; meu encantamento pela escrita de Jennifer Egan – iniciado com A visita cruel do tempo e confirmada por
O Torreão; e mesmo sobre filmes
assistidos recentemente que mexeram comigo de alguma forma, desde os bobos mas
bonitinhos Paris-Manhattan, O lado bom da vida ou As vantagens de ser invisível aos
dilacerantes Amor e O Mestre. Aliás, sobre este último, recomento a excelente resenha de Ana Maria Bahiana, melhor do que qualquer
coisa que eu pudesse escrever sobre a obra.
Minha última tentativa
de texto havia sido sobre o final de Fringe, série em que J.J. Abrams, talvez calejado após a repercussão negativa
do final de Lost, preparou um
desfecho redondinho, dosando informação e emoção na medida certa. Minha
dificuldade em escrever suponho que tenha vindo da sensação de Fringe – assim como
torcer pelo Botafogo ou ouvir Steve Earle ou Townes Van Zandt – fazer parte de
um prazer restrito a alguns poucos abençoados. E seria como se escrever sobre
isso violasse algum tipo de código de exclusividade quase maçônico.
O que pode ser também
apenas uma desculpa para não ter que escrever mais por um período, é claro.
Nesse tempo em que
andamos parados, alguns – poucos, mas fundamentais – leitores andaram
perguntando e nos incentivando a continuar. E na última semana, em um bate papo
informal, Hugo e eu discutimos os rumos do blog. E descobrimos um carinho pelo
que construímos nestes dois anos e meio de imperfeições e belezas escondidas
nos textos aqui guardados.
Decidimos então tentar,
no meio de uma rotina cada vez mais exigente, arrumar um tempo de dedicação
para não deixar que o Talk about the
passion fique por aqui. Vamos tentar a voltar escrever com regularidade.
Aguardemos, então, os próximos passos...
Por Ricardo Pereira