"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mediano e simpático


É muito fácil falar mal do vocalista da banda Capital Inicial, Dinho Ouro Preto. Com ou sem razão.

Cantor e compositor de um dos conjuntos mais famosos do chamado “Rock de Brasília”, que estourou no país inteiro através de nomes como Legião Urbana e Plebe Rude, nos anos 80, Dinho e seu grupo lançaram algumas boas canções e muitas faixas dispensáveis, ao longo de discos sempre marcados pela irregularidade.

Um ótimo motivo para detoná-lo, certo? Afinal, nada mais justo do que criticar um músico pela ausência de qualidade ou falta de relevância relativa ao trabalho apresentado.

Dinho sabia que nunca ia escrever ou cantar da mesma forma como Renato Russo, seu grande ídolo, fazia. Poderia, junto com sua banda, até exigir um empate técnico no quesito “conjunto da obra”, em relação ao companheiro de geração Plebe Rude. Mas o quarteto que criou “Até quando esperar?” perdeu a virgindade musical com “O concreto já rachou”, um mini-LP destruidor, onde quase todas as faixas eram acima da média.

Medalha de bronze, cara. Ao menos, por enquanto.

Quatro discos depois de “Capital Inicial”, de 1986, Dinho resolveu sair do grupo que lhe deu fama e grana. A banda continuou com um novo vocalista, mas nada aconteceu. Dinho lançou dois álbuns solos – o segundo, “Dinho Ouro Preto”, foi até elogiado pela crítica –, mas também não foi além.

Quando parecia que a história do conjunto havia chegado ao fim, eis que a banda volta com a formação original, grava um bom disco autoral – “Atrás dos olhos”, de 1999 – e, em seguida, lança um acústico com o selo MTV que emplaca pelo menos meia dúzia de músicas.  Só faltava os caras tocarem num Rock in Rio da vida e saírem de lá consagrados como responsáveis por um dos melhores shows da noite. E foi o que aconteceu.

O Capital Inicial é hoje um dos conjuntos de rock/pop mais famosos do país. A banda toca em tudo quanto é canto, renovou o público e conseguiu lançar discos melhores do que aqueles produzidos em meados dos 80/começo dos 90 – embora a fonte pareça estar secando.

Agora, aos 46 anos, o cantor que sempre disse que só sabia tocar rock, que ia envelhecer fazendo esse tipo de música, resolveu gravar um novo disco solo lotado de versões internacionais de clássicos e algumas novidades incensadas do estilo. Tudo bem para você, caro leitor?

Seria desonesto generalizar, mas, para gente como eu, que respira música pop, err, “séria”, que acaba de voltar de um show do Morrissey e que está sofrendo com um ingresso do festival Coachella na mão, sem poder ir ao evento por causa da falta de grana, a resposta automática é não.

Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando Ricardo, a outra mente por trás deste blog – aliás, a mais atuante por esses dias –, enviou uma mensagem, via celular, falando que “There Is A Light That Never Goes Out”, dos Smiths, não ficou horrorosa na voz do Dinho, mas “Hallelujah”, clássico de Leonard Cohen imortalizado na voz do cantor Jeff Buckley, havia ficado “tenebrosa”.

Eu ri muito e, automaticamente, visualizei o álbum como uma grande merda.  Mesmo sem ter escutado. Aí, bateu uma coceirinha na mente, lá no fundo da consciência. “Porra, vai esculachar sem ter escutado?”. Resolvi encarar a missão.

“Black Heart” tem doze canções. É um disco de um cara que cresceu ouvindo rock, tocando esse tipo de música simples e apaixonante. Dinho poderia ter gravado um álbum com clássicos da MPB, na intenção de soar mais adulto e brasileiro. Mas não. Registrou faixas que parecem falar muito de onde ele veio e para onde está indo. Ainda assim, também soa como um músico querendo provar para todo mundo que é “do rock”, que está ligado com o que aconteceu e acontece no cenário.

“Steady As She Goes”, da banda americana Raconteurs, e “Time Is Running Out”, do trio inglês Muse, ganharam versões muito fracas. São justamente as canções mais atuais do repertório que o cantor escolheu. A primeira não consegue reproduzir um tiquinho da tensão que a original carregava. Uma música morta, do começo ao fim; já a segunda, se transformou num indie brega de fundo de quintal, com direito a refrão com cara de coro de igreja ruim. Detalhe: em ambas, um backing vocal contribui para o (des) serviço.

“Hallelujah”, canção do cantor e compositor Leonard Cohen que ficou famosa na voz de Jeff Buckley, também surge como outra bola fora do trabalho. Música simples, mas de grande carga emocional, ela aparece em arranjo ligeiramente diferente, com um violão mais presente e uma percussão marcando a faixa. Nem a bonitinha intervenção instrumental no refrão – parece um violão, um banjo, algo do tipo – consegue salvar a faixa da ausência de uma interpretação mais emocionada, feita com o coração... Mesmo que negro.

A simplicidade e o respeito ajudam o cantor em dois momentos: “Hard Sun”, de Eddie Vedder, e “(Are You) The One That I’ve Been Waiting For?”, de Nick Cave, são simpáticas, bem parecidas com as originais, sem grandes ousadias ou retrocessos.

“Suspicious Mind”, que Mark James parece ter criado exclusivamente para a voz de Elvis Presley, pode até ter perdido em explosão, mas ganhou um arranjo mais sutil e interessante, com uma boa quebra de ritmo no meio.  “There Is A Light That Never Goes Out”, dos Smiths, aparece numa velocidade mais acelerada do que a original, com Dinho cantando com vontade, mas fazendo firulas vocais suspeitas, quase desnecessárias. A dramaticidade da voz de Morrissey e das cordas presentes na canção original – boladas por Johnny Marr – faz falta.

A primeira música de trabalho do disco, “Nothing Compares 2 U”, gerada através do cantor Prince, mas adotada pela cantora irlandesa Sinéad O’Connor, ganhou um groovezinho chulé, mas nada que possa arranhar o brilho da interpretação mais famosa, que foi defendida com um dos vídeos mais singelos e arrebatadores dos anos 90. Talvez este seja o grande problema do disco – mais do que o instrumental sem grandes momentos e a voz mediana de Dinho: a incapacidade do álbum em chamar a atenção do ouvinte médio do Capital para os originais das canções escolhidas, muitas, peças fundamentais no caminho traçado pelo vocalista e sua banda.

Restou escrever sobre as quatro melhores faixas de “Black Heart”. “Lovesong”, do The Cure, uma das influências primárias do Capital Inicial, ficou ótima. Gravada com tesão, instrumentos e voz para cima, com a urgência que a música merece. “Love Will Tear Us Apart”, do Joy Division – o “pós-punk” supremo –, surpreende pela criatividade. A simplicidade é mantida, mas em compensação, Dinho e os músicos que gravaram o álbum não economizam no bom gosto. Não tem a ‘dor’ e o espírito torturado da gravação original? Ótimo: sinal que ao menos nessa canção o vocalista conseguiu oferecer algo de novo. Outros tempos, certo?

“Dancing Barefoot”, da cantora pré-punk Patti Smith, ganhou uma roupagem mais encorpada... E acordes iniciais que lembram “Island Of The Sun”, do conjunto power pop americano Weezer. O órgão de churrascaria caiu bem na faixa, assim como o backing vocal, que finalmente marcou um gol, aos 45 do segundo tempo e chorado. A versão para “Being Boring”, movida a violões, também ficou bonita, prontinha para o momento “celulares ligados” durante os shows que o vocalista deverá realizar para divulgar o álbum.

Dinho parece ser um cara legal. Um quase tiozão com boas intenções e influências roqueiras relevantes. Se o objetivo do cantor era homenagear as bandas e os cantores que fizeram – e fazem – sua cabeça, ele conseguiu. Por outro lado, para nós, ouvintes, é um resultado abaixo do esperado.

E a gente costuma criar expectativas em relação às pessoas legais, certo?

Não foi dessa vez... Mas foi divertido.


Que país é esse? Ninguém se mobiliza para ouvir o álbum do cara? É a porra do Brasil!

 Por Hugo Oliveira



7 comentários:

  1. antipático. só penso nisso. no g1, ele disse que o disco poderia ser uma forma de educar os fãs do capital que não conhecem os clássicos, então ele poderia ter feito um setlist com músicas que, de alguma maneira, são importantes na vida dele, sem precisar regravá-las :D porra, "hallelujah" é linda, mas só é linda daquele jeito na voz do j. buckley, não tem tanto "peso" na versão original. (e o cohen é brega, o clipe de "dance me to the end of love" é pavoroso, moralista, destoa da versão linda, linda da madeleine peyroux.)ai, te admiro por ter ouvido o disco sem preconceito, mas esse cara aí deveria ter ficado na dele, até mesmo em respeito aos clássicos. a vaidade não permite, né?

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  2. Grande Paulinha! Aliás, "grande Paulinha" é tipo o bonde da antítese! Pô, eu não consigo ver o Dinho com antipatia, não. Mesmo assim, também não dá para aliviar: simpatia não quer dizer talento musical. Esse lance de catequizar os fãs eu não vejo com bons olhos... Agora, acho legal ele gravar as canções que gosta. Aliás, ele sempre citou as influências, as coisas novas que anda escutando. A "Hallelujah" não é "horrível". O problema é que o Buckley gravou a versão definitiva. Aí, fica difícil para qualquer outro... Mortal - com exceção do Rufus Wainwright. Vaidade é mesmo um troço sério. Por outro lado, não vejo muita vaidade no rock brasileiro que está no mainstream. Não justifica, eu sei. Mas ajuda a entender. Ao menos, no meu caso. Beijão e saudades!

    Hugo

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  3. tudo começou quando ele falou mal do silverchair, dando uma desculpa mulamba, e mexeu com a ira de uma adolescente fanática pela "bandinha" australiana. tenho mais respeito por você que pelo dinho, hugo; regrava aí os clássicos! não posso falar do que ele cita porque não acompanho, só sei que capital vai fazer show numa casa de show nova em nikiti. tá nos billboards. eu tenho preguiça desse povo que vc não acha vaidoso do rock brasileiro, e talvez eu nem tenha muito fundamento pra isso. pero preguiça é preguiça. beijo antitético pra você! e, ah, falando em j. buckley, aproveito pra fazer propaganda de moi: vai rolar por essas sextas no futura, no cine conhecimento, "os edukadores", que tem "hallelujah" e tradução minha :D o filme não é novo, mas vamo prestigiar azamiga.

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  4. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK... Imagine: Hugo Oliveira regrava os grandes clássicos de sua vida! Pô, legal o lance da tradução. Claro que eu vou prestigiar! Beijão!

    Hugo

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  5. Continuo sem ter vontade de ouvir o disco. E não faço questão de ouvir discos do Capital Inicial. Sei lá, não tenho mesmo.

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