"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

segunda-feira, 12 de março de 2012

The passing of time... - Morrissey no Rio


Na última sexta-feira, em sua coluna n'O Globo, Hermano Vianna escreveu sobre o canto gregoriano no Mosteiro de São Bento: "É tranquilizador saber que há coisas que não mudam no mundo, ou mudam muito vagarosamente. Os monges funcionam na minha estranha cabeça como um porto seguro: o que há em volta muda (inquietos, construímos e destruímos perimetrais...), mas eles permanecem ali, entoando os mesmos cânticos, na mesma hora". No instante em que li, pensei em uma mensagem recebida de meu amigo Hugo, no dia anterior, a respeito da expectativa para mais um show do Morrissey: "Foram-se namoradas, modas musicais... Moz ficou. Nossa amizade também".

Na hora, foi como se voltasse doze anos no tempo, para aquele abril de 2000 em que assistimos Morrissey ao vivo pela primeira vez. Na minha memória - e na cabeça do deslumbrado Ricardo de 19 anos da ocasião - foi como ter presenciado a aparição de um semideus. Estar frente a frente com o sujeito que escreveu algumas das canções que tanto marcaram minha adolescência, minha formação musical, ficou marcado como uma experiência inacreditável.  Lembro bem dos bons momentos como "Alma Matters", "Trouble loves me", do Maladjusted, seu último álbum solo de então; performances vigorosas de “Billy Bud”, “Tomorrow” e “The more you ignore me, the closer I get”; e, claro, das canções dos Smiths, uma surpreendente "Meat is murder", o encerramento perfeito com "Shoplifters of the world unite" e a inesquecível versão de "Half a Person", ponto alto do show.

Hugo e eu saímos da apresentação extasiados, como de dentro de um sonho, afirmando, em meio a superlativos, termos participado de um "momento histórico", "pra contar aos filhos um dia".

De lá pra cá, muito mudou. Amores partiram, outros chegaram; veio a faculdade, novas amizades, outras antigas solidificaram-se; início da vida profissional, mais responsabilidades, muitas mudanças e, entre altos e baixos, como bem disse o Hugo, "Moz ficou" e, nesse intervalo de tempo, lançou alguns de seus melhores trabalhos, o que só aumentou a expectativa para uma nova apresentação.

E, na sexta passada, estávamos novamente, eu e Hugo, dessa vez em locais diferentes, mas com a mesma ansiedade de presenciar outro "momento histórico". E saímos com a sensação de termos assistido "apenas" a um bom show, apesar de superior ao primeiro. O "problema", se houve algum, não estava no palco, e sim 'do lado de cá'.

Houve grandes momentos proporcionados por canções dos discos recentes, como "Black Cloud", "First of the gang to die", "You have killed me", "When last I spoke to Carol", "One day goodbye will be farewell"; excelentes versões de "Alma Matters", "You're the one for me, fatty", e uma arrepiante "Still Ill" - sem contar o festival de 'piadas internas' proporcionado pelo nosso grupo, sobrou pra quase todo mundo... E momentos monótonos como em "Speedway", "Ouija Board, Ouija Board" e a anticlimática "Meat is Murder", o ponto crítico em que o show ameaçou desandar.

Pessoalmente, o que era para ser o grande momento da apresentação, uma lindíssima "I know it's over", trouxe uma série de importunas reflexões. Queria ter assistido exatamente àquela versão com dez anos a menos, teria batido mais forte. Na hora, o que era pra ser deslumbramento, tornou-se incômodo com a passagem do tempo. Pensei no quanto aquelas palavras, outrora parte do meu idealizado sofrimento adolescente, agora soavam algo distantes, fora da realidade. Esperava ter a mesma espécie de epifania provocada por "Half a Person" em 2000. E só consegui me sentir frio por dentro...

Mas, felizmente, tal distanciamento foi quebrado pela melhor sequência de canções do show. "There is a light that never goes out" fez me sentir com quinze anos novamente descobrindo os Smiths e, logo depois, "I'm throwing my arms around Paris", "Please, please, please let me get what I want" e "How Soon is Now?" mostraram que Hugo estava certo: Morrissey ficou. E, de uma forma ou de outra, permanecerá.

"Yes, you're older now (...) But they were the only ones Who ever stood by you"
 Por Ricardo Pereira

4 comentários:

  1. Caramba!!!! Você conseguiu escrever sobre uma sensação que me é muito familiar, Ricardo!
    Essa reflexão sobre o sentir e estar diante do passar do tempo tem mexido demais comigo (viver em outro lugar e com outras pessoas revira tudo isso.
    Massss, posso afirmar...
    de uma forma ou de outra, Morrissey permanecerá.

    Beijo, querido!
    Lívia.

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    1. Lívia, que bom que gostou! Penso muito nessas coisas tb, tudo passa rápido demais e em alguns momentos normal que a gente se pegue dessa forma, comigo aconteceu durante 'I Know it's over', vai entender...

      Beijo!

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  2. Afinal, vc gostou ou nao do show??? Nao ficou muito claro isso, rsrsrs!

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    1. Gostei sim, cara, bastante! Repertório e banda melhores do que em 2000, o negócio é que o deslumbramento daquela época traz uma aura 'mágica' que não rolou dessa vez. Mas foi sim um show muito bom!

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