"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

terça-feira, 13 de março de 2012

Íntimo e pessoal - Morrissey ao vivo na Fundição Progresso


Por que determinado artista é importante para você? Consegue apontar os motivos que o levaram a gostar daquele cantor, escritor ou ator? Como examinar a relevância de uma obra artística com o passar dos anos? As excentricidades de um autor “vazam” para suas criações? O tempo influencia nosso julgamento crítico?
Perguntas cabeludas; respostas idem. Não poderia ser diferente: complexidade é a palavra de ordem quando se trata da trajetória do cantor inglês Morrissey, de 52 anos, que na década de 80, liderou um dos grupos de rock mais importantes do período, o The Smiths.
Morrissey esteve no Brasil pela primeira vez em 2000, divulgando o disco “Maladjusted”, de 1997. Apresentou-se nas cidades de Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Eu estava no show do Rio. Ao meu lado, uma namorada – que hoje é ex – e um amigo – atualmente, o mais importante deles, sem menosprezar ninguém.
Não foi o melhor show que assisti, mas foi mágico. Estar no mesmo ambiente do cara que escreveu canções tão belas como “Back To The Old House”, “Suedehead”, “Hand In Glove”, “Boxers” e “Now My Heart Is Full” era algo de outro mundo para um garoto simples de Angra dos Reis, com apenas 21 anos de idade. Hoje não é mais. Infelizmente.
Mas não é apenas a facilidade com que posso assistir a shows e adquirir discos raros, hoje em dia, que faz com que eu decrete que a apresentação do cantor, na noite de 9 de março, no palco da Fundição Progresso, foi apenas boa. O tempo, esse sim, é um dos maiores vilões da história. Menos, ok: anti-herói.
Tudo estava no seu devido lugar. Banda competente – com destaque para ótimo baterista Matt Walker –, voz poderosa, som surpreendentemente alto e claro e um repertório que tinha tudo para agradar tanto os fãs da carreira solo de Morrissey quanto os dos Smiths – clássicos como “There Is A Light That Never Goes Out” e “How Soon Is Now?”, de sua antiga banda, e “Everyday Is Like Sunday”, do primeiro álbum solo, marcaram presença no set list.
Nada disso adiantou. Faltou magia e risco. Melhor: talvez não tenha sido mágico porque Morrissey não se arriscou. Pode até parecer descabido, principalmente para mim, fanático pela obra do cantor, mas aquele punhado de músicas dos Smiths – seis no total – não faz verão sozinho. Sim, você não leu errado. O que adianta ter criado – ao lado do guitarrista Johnny Marr – canções emblemáticas como “Still Ill”, “Please, Please, Please Let Me Get What I Want” e “I Know It’s Over” se elas aparecem num repertório mal amarrado? Pior de tudo: saber que aquele cara rodando o cabo do microfone – já com certa dificuldade – certamente não deve sentir mais nada ao cantar essas músicas. Apesar de ainda desajustados, crescemos. Eu e Morrissey. Se isso é bom por um lado, pelo outro, dá uma saudade danada.
Aquele topetudo magrelo dos tempos dos Smiths se foi. Mesmo assim, o hoje coroa encorpado, com jeito de poucos amigos, continua não combinando com teatralidade e acomodação. Não que toda a melancolia presente na obra de Morrissey não tenha um fundo de verdade. Outra: beleza, eu sei que outros músicos poderiam viver tranquilos depois de ter apresentado ao mundo obras tão importantes como as que ele forneceu, mas não Morrissey. Sim, existem discos recentes – e bons –, mas é preciso mais do que isso. É necessário emocionar. Ao menos, lutar em prol dessa missão. Moz não fez isso durante sua passagem pelo Rio. Apenas cantou afinado, defendendo suas lindas músicas na frente de um público formado por pelo menos três gerações de fãs. Foi bom... Mas foi pouco.
Cantei suas letras durante a apresentação. Fiquei nervoso esperando por sua entrada no palco. Fiz bateria e guitarra imaginárias em algumas canções. Passado o impacto inicial, comecei a lembrar de uma letra escrita por ele, intitulada “Get Off The Stage”.

Oh, you silly old man
You silly old man
You're making a fool of yourself
So get off the stage

You silly old man
In your misguided trousers
With your mascara and your Fender guitar
And you think you can arouse us?

But the song that you just sang
It sounds exactly like the last one
And the next one
I bet you it will sound
Like this one

Downstage, and offstage
Don't you feel all run in?
And do you wonder when they will take it away?
This is your final fling

But then applause ran high
But for the patience of the ones behind you
As a verse drags on like a month drags on
It's very short, but it seems very long

And the song that you just sang
It sounds exactly like the last one
And the next one
I bet you it will sound
Like this one

So, get off the stage
Oh, get off the stage
And when we get down off of the stage
Please stay off the stage - ALL DAY !

Get off the stage
Oh, get off the stage
And when we've had our money back
Then I'd like your back in plaster

Oh, I know that you say
How age has no meaning
Oh, but here is your audience now
And they're screaming :

"Get off the stage"
Oh, get off the stage
Because I've given you enough of my time
And the money that wasn't even mine
Have you seen yourself recently ?

Oh, get off the stage
Oh, get off the stage
For whom, oh ...
For whom, oh ...
For whom, oh ...
For whom, oh ...

Get off the stage
Get off the stage
Get off the stage

For whom the bell tolls

Nem acredito que eu escrevi isto. Espero estar equivocado.

Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuu... Menos, amigo. Menos...

 Por Hugo Oliveira

4 comentários:

  1. Como sempre, ótimo texto. Me fez sentir dentro do show.

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  2. Tá bem dividido as opinioes sobre o show na blogosfera. Mas a sua opiniao é a mais correta de todas.

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  3. o texto tá bem escrito mesmo, também fui transportada pro show.

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  4. É... Concordo totalmente com você: as canções com certeza não são mais defendidas da mesma forma, com tanta paixão. Mas sei lá, é algo que acaba acontecendo, infelizmente nós mudamos, e nem sempre pra melhor, no sentido artístico, rsrs.

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