Não há nada que me orgulhe mais
na vida do que torcer pelo Botafogo, ser botafoguense. Talvez esta afirmação
soe estranha para o leitor costumaz deste espaço normalmente dedicado à cultura
pop ou a projetos de contos. Mas a verdade é que o futebol ocupa um espaço
primordial – e, muitas vezes, pouco saudável – em minha vida.
Costumo dizer que a intensidade
de meu amor pelo Botafogo é a parte que me cabe de irracionalidade. Assim, como há
os que são apaixonados por bichos, conversam com plantas, cheiram cocaína ou são
aficionados por “esportes” cujo objetivo é a agressão a um oponente, minha
afeição pelo Botafogo não pode ser medida em termos racionais.
Sou do tipo que agradece todo dia
pela Estrela Solitária ter me escolhido, provavelmente no limbo espaço-temporal
que antecede a concepção, como um de seus adeptos, não tão numerosos,
justamente por selecionados, diferenciados.
No entanto, ontem, fiquei triste
assistindo à patética classificação do Botafogo para a segunda fase da Copa do
Brasil, nos pênaltis, após empate no tempo normal, contra o Treze de Campina
Grande. Enquanto meu pai acompanhava a partida nervoso de sua casa; meu amigo
Pedro, em São Januário,
assistia ao jogo do Vasco “puto”, segundo suas palavras; eu só consegui sentir
tristeza, misturada a um tanto de aflição.
Além de acompanhar, mais do que
religiosamente, o dia a dia do clube, sempre assisto, ouço e leio, com orgulho
e prazer, as histórias do passado glorioso do Botafogo de Futebol e Regatas: os
jogos épicos, as equipes históricas, a vida e obra de tantos ídolos – de fora e
dentro de campo. E, por tudo isso, sinto tanta tristeza em presenciar ao
processo de apequenamento por que o clube passa. Reversível ainda, mas não se
as esperanças estiverem a cargo dos homens que comandam o futebol alvinegro
hoje.
De forma até infantil, gostaria
que os jogadores, comissão técnica e, principalmente, os dirigentes sentissem –
saber não basta, alguns seriam capazes de rir e debochar entre uma refeição e
outra – sim, que pudessem sentir a tristeza com que fui me deitar ontem e a
vergonha que senti hoje cedo ao sair para o trabalho.
Ontem, ao defender a última
cobrança de penalidade, cobrada de forma extravagante pelo jogador do Treze,
Jefferson, melhor goleiro brasileiro da atualidade e um dos poucos em General Severiano
a honrar a camisa que veste, dirigiu-se ao adversário aos gritos de “Aqui não!”.
Conhecedor de seu caráter humilde, proporcional a seu talento, imagino que o
arqueiro precisava extravasar seu desgosto com o que acabara de ver em campo,
com o que estão fazendo com um dos maiores clubes da história do futebol, e
acabou sobrando para o pobre do jogador da equipe paraibana.
Independente do que o futuro
venha a reservar, enquanto estiver vivo, estarei com o Botafogo, que é para mim
algo em minhas veias, mais sangue que o sangue. (Aliás, lembro de que, nos meus
devaneios durante as longas viagens de Bangu ao Fundão, no começo da faculdade,
fantasiava o desejo de poder sangrar preto e branco...
O que sei é que aquele não é o
Botafogo. E, para o bem do futebol brasileiro – e da saúde emocional (e, por que
não dizer, física?) de tantos alvinegros – que a corja que denigre e vilipendia
este patrimônio do esporte mundial possa se afastar para que tenhamos o
verdadeiro Botafogo de volta. Faço, então, minhas as palavras de meu
goleiro: “Aqui não!”.
Por Ricardo Pereira
Ricardo, você traduziu em palavras todas as emoções daqueles que realmente vivem por essa Estrela. Essa é a indignação que precisamos representar, e não essa demonstração de abandono que a maior parte da nossa torcida vem demonstrando. o Botafogo é, acima de tudo e de todos, a nossa maior paixão. Que esse texto toque o coração de cada alvinegro, e faça perceber que nosso time precisa mais do que patrocínios e craques.
ResponderExcluirOlá Ricardo! Saudações Alvinegras.
ResponderExcluirDe fato vc soube de forma clara e objetiva transpassar para o seu texto toda a sensação de indignação que é o que eu também sinto e acredito que a maioria do torcedor alvinegro deva sentir nos dias de hoje. No Blog do UOL temos discussões acaloradas sobre todos os passos que o nosso clube tem dado. O ùltimo BOTAFOGO do qual eu e meus amigos alvinegros fazemos referência como grande clube , foi o que o CUCA era técnico. O ùltimo momento real de grandeza do nosso fogão foi a cavadinha de LOCO contra o Bruno do FLA. Há quantos anos não produzimos um verdadeiro craque? Há de se mudar a filosofia, o entendimento, o direcionamento do futebol alvinegro para que retomemos o nosso verdadeiro lugar na HISTÓRIA do futebol brasileiro. Abraços e "TAMU JUNTO" companheiro alvinegro. Sebastião Queiroz "EL LOBO"-No BlogAlvinegro do UOL