Às vezes me assalta a sensação de
não pertencimento ao mundo. Algo que, à primeira vista, parece um sentimento
adolescente – e não deixa de ser... –, no entanto, ataca na idade adulta de
outras formas. No meu caso, sinto-me assim por não me sentir ajustado à
competitividade reinante, ao modelo apresentado como ideal de vida para as
pessoas.
E, de repente, vem a vontade de
fugir, vontade de morar em filme, morar em disco. Cheguei a
pensar que a morada ideal para mim num dia como hoje pudesse ser um álbum da
Joanna Newsom, porém, ouvindo o maravilhoso Songs
for begginers, primeiro álbum solo do Graham Nash, senti que ali estaria
meu esconderijo ideal.
Durante “There’s only one”, tive,
por um breve momento, a impressão que uma canção dessas contém mais beleza do
que o resto do mundo todo. Pensamento imbecil, ingênuo, escapista, chame como
quiser. Fui apresentado a este disco no começo do ano - ou fim do ano passado -
por meu amigo Cecel e, desde a primeira audição, fiquei encantado. É como se
Nash fosse Harrison, Lennon e McCartney juntos em um disco só.
E, à medida que vou ficando mais íntimo
do álbum, encanto-me mais, vejo mais beleza. Beleza de um tipo que pode salvar
uma vida, construir um mundo imaginário onde valha a pena habitar. Desde a
força para seguir em frente cantada em “Better Days”, brincando de morar em
disco, vejo a minha frente, como fosse um filme, castelos de areia desmoronando
e o sujeito que costumava ser um rei converter-se num homem simples, que,
cantando uma simples canção, sabe que precisa da pessoa especial que lhe dá
força, que o torna real.
E permito-me residir por ali pelo
tempo que for necessário. Sejam os trinta minutos de uma audição ou a
eternidade de beleza e encantamento responsável por me fazer acreditar que uma
canção pode até não mudar o mundo, mas é capaz de transformar o meu,
tornando-me mais apto a enfrentar a realidade e mostrando que minha
simplicidade, de uma forma ou de outra, encontra eco entre sonhos e sons
atemporais.
Por Ricardo Pereira
Te entendo perfeitamente. Tenho sérios problemas pra me encaixar no mundo e na forma como as "coisas são". E acredito no poder das canções, seja pra me fazer compreender algo melhor, seja pra tirar um sorriso do meu rosto por me fazer lembrar de algo, etc etc.
ResponderExcluirUltimamente tenho tido fascinação por Crosby, Stills e o Nash, apesar de não ter ouvido ainda quase nada, e esse disco eu vou ouvir muito em breve.