A vida, às vezes, parece querer
nos testar. No meio de um tarde confortável de sol, tempestades imprevistas. Sem
proteção, há sempre os amigos. Como uma varanda de uma casa vazia, uma sala
acolhedora, ou mesmo uma marquise onde se proteger enquanto a chuva não passa. Mas
é inevitável que alguns pingos – mais fracos, fortes, até misturados a granizo,
a depender da intensidade do dilúvio – nos atinjam até recebermos o conforto
protetor.
Uma semana marcada por fortes
tempestades emocionais. Um telefonema sofrido, sentir a dor de uma pessoa
querida e a própria impotência perante uma situação, a sensação de que nenhuma
ajuda prática é possível, não é fácil. Principalmente para quem, como eu, teima
em desafiar a vida, acreditando num ilusório controle sobre as ações e
sentimentos.
Dias depois, ainda sobre o
impacto das primeiras chuvas, uma expectativa desfeita. Na verdade, por mais
que, desde o começo, cautela fosse a palavra de ordem, tudo indicava um
desfecho positivo. A mudança tão esperada, novos antigos ares, possibilidade
real de crescimento, proximidade maior aos amigos e irmãos, tudo parecia
encaminhado e... nada, mais uma vez. A princípio, deixei as minúsculas gotas
escorrerem livremente como se não incomodassem, mas a verdade é que a constante
exposição à chuva fina também fez seus estragos...
E, por fim, como se a chuviscar,
um dia de trabalho atípico, em que, talvez decorrência da imunidade baixa
advinda de tanta chuva recente, um curto percurso foi dificultado pela insistência
em caminhar por poças ainda sobrecarregadas.
No meio da tempestade lembrei-me
de Fernando Pessoa: “Mais triste do que o que acontece, é o que nunca
aconteceu." Mas, na verdade,
foi outro Fernando, o Sabino, que apareceu para me deixar a certeza de
tratar-se de chuva de verão, tão breve sua ocorrência quão forte seu impacto:
“De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!”
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!”
E,
ainda que não pudesse enxergar, já podia sentir a vinda do sol. E essa certeza,
do princípio do alvorecer, já ilumina meus dias.
Por Ricardo Pereira
Lindo texto. Adorei a maneira como ele termina.
ResponderExcluirObrigado :)
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