Um homem dirigindo um caminhão. Esta
é a primeira cena de “À beira do caminho”, novo filme do diretor Breno Silveira.
Ele está sozinho na estrada. Não há diálogos, palavras soltas ao vento ou
pensamentos altos. O silêncio só é quebrado pela canção “A distância”, de
Roberto Carlos, que começa a tocar dentro da cabine.
Nunca mais você ouviu falar de
mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou...
Tanto tempo já passou e eu não te
esqueci
Nem precisa chegar ao refrão.
Temos alguém com um coração partido. Uma história mal resolvida. Pausa na
música: um pneu do veículo acaba furando. É necessário fazer uma parada para
consertá-lo. Ao visualizar a peça que deve ser trocada, o homem ouve um barulho
na carroceria. Lá dentro, um menino que viajava escondido é descoberto. Ele
revela que só queria uma carona para São Paulo, na intenção de encontrar o pai
que ele não conhece.
Prontinho. O encontro inusitado
entre o motorista João – João Miguel – e o menino Duda – Vinicius Nascimento –,
“dois fodidos”, é tudo que o espectador precisa para embarcar numa viagem
tocante, de pouco mais de 1h30. No trajeto, nada de explosões, tiroteios ou
efeitos especiais mirabolantes. Apenas um homem e um garoto numa cabine,
espremidos entre a culpa do primeiro e a esperança que o segundo carrega. Em
algum momento alguém vai ter que descer.
Não existem grandes mistérios
relacionados ao longa. As pistas sobre o que aconteceu e o que está por vir na
vida da improvável dupla vão sendo apresentadas de forma simples... Como se o
filme pudesse ser resumido numa frase de parachoque de caminhão. “Espere o
melhor, prepare-se para o pior, aceite o que vier”. Um lugar comum inescapável.
E absolutamente crível.
O que faz “À beira do caminho” entrar
diretamente na lista de grandes filmes brasileiros de 2012 é a interpretação
dos protagonistas. Despidos de maiores afetações e tons exagerados, os atores
criam, cena após cena, uma cumplicidade silenciosa. E emocionante. Cada informação
oferecida através da película alimenta nossa relação com os personagens. E chegamos
ao final querendo mais, desejando abraçá-los, viajar ao lado deles ouvindo “O
portão”, clássico do “Rei” que demarca o término de uma história. E o começo de
outra.
Enquanto houver vida, haverá
sorrisos e lágrimas, redenção e remorso. Os livros, as experiências, os
conselhos, o amadurecimento, a religião, nada, nenhum deles poderá nos
proteger.
Porque viver é mesmo desenhar sem
borracha.
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