Não sei se sempre fui assim ou
quando me tornei. Hoje, no espelho pela metade, enxergo uma pessoa estreita,
sentindo-se velho cedo demais, esperando o tempo passar. Triste, não. Certa
vez, uma amiga, ao perder a mãe, afirmou que a mesma nunca fora feliz. Ninguém
pode dizer isso de mim.
A metáfora do Michael Jackson é
uma boa. Uma bolha. Sim. Há alguns anos, um destes toscos programas
sensacionalistas comentava sobre uma bolha que o cantor possuía em casa para
que pudesse ficar sem ser contaminado. Nem sei se verdade ou não. Mas a imagem
ficou e é numa bolha que me sinto às vezes. Fechado, cercado de livros, discos,
filmes, enchendo-me de cultura para me esvaziar de vida. Há quem pergunte sobre
claustrofobia, digo que até a pouco ar fui me acostumando a respirar.
Alguns poucos amigos e familiares
lidam bem com isso, ora habitando a bolha, ora tirando-me para respirar novos
ares. Nela, estou a salvo de grandes tormentos, sofrimentos demais, fico apenas
com os inevitáveis. – E, agora, escrevendo isso, pergunto-me: terá sido a bolha
uma criação de Ricardo Reis enquanto pessoa?
Gostaria que o tempo passasse
diferente aqui dentro. Mas, não. É preciso trabalhar e não posso perder a hora
do mundo. Será que o menino parado horas por dia com uma fita virgem no pause
esperando que o rádio tocasse alguma música de que gostasse para gravar já
habitava a bolha sem saber? Ou apenas, como Penélope/Jacob dos tempos modernos,
tecia invisível sua morada permanente de adulto?
Quando alguém cheio de vida, com
olhos ávidos pelo mundo, consegue romper tantas barreiras e, por essas ironias
tão comuns, acaba envolvendo-se é que esta condição transforma-se em frustração. Triste
imagem é uma criatura com asas a se debater em um limite invisível, cerceada
pela ousadia de tentar amar um alguém com pés de chumbo e horizontes tão
estreitos.
A vida se repete e, com ela, as
mesmas canções a ricochetear nas paredes intangíveis da bolha. Mitchell, Gibbons, Marshall – as damas, primeiro –, Young,
Yorke, Billy, Tweedy, Dylan e John. Parecem confortáveis aqui dentro, mas são
apenas vozes, não apenas vozes – parte do meu coração a reinventar sentimentos
e vida das mesmas palavras repetidas.
I got a message I can't read
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Por Ricardo Pereira
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