Adquiri o Quase memória, quase romance de Carlos Heitor Cony, aos 45 do segundo tempo da minha visita à bienal do livro do ano passado. Ia saindo de um estande, já na hora do retorno, quando o avistei escondidinho, como um brinde a me chamar. Já simpatizante da escrita de Cony e com a vaga lembrança de alguma boa recomendação ou crítica lida, trouxe o livro comigo.
Com todo meu tempo de leitura
disponível dedicado à monumental biografia de Dostoievski, foram se acumulando
os pequenos romances a serem lidos. Há mais ou menos dois meses, resolvi dar
uma pausa na pesquisa sobre o grande mestre russo para arejar minha cabeça com
um pouco de ficção.
Quase memória não estava agendado para o momento. Emprestei-o então
a meu pai, e, há duas semanas recebi uma ligação. Era o pai, emocionado como
poucas vezes o vi, ao terminar a leitura, recomendando que eu lesse assim que
pudesse. E foi assim, como um embrulho inesperado no tempo e no espaço, que o
livro me chegou às mãos, furando a fila das leituras previstas.
Neste livro, Cony nos apresenta a
seu pai, Ernesto Cony Filho, dez anos após sua morte. E que personagem
encontramos nas páginas de Quase memória!
Através de um bom gancho narrativo oriundo de um sonho do autor, vamos
conhecendo aos poucos as excentricidades, virtudes e defeitos do pai, enquanto
acompanhamos as deliciosas histórias narradas com o frescor e simplicidade
característicos da pena de Carlos Heitor Cony.
E, à medida que avançamos as páginas,
vamos nos afeiçoando ao Cony pai e, como num espelho, compreendemos o que o
filho narrador sentiu em cada momento daqueles. Dessa forma, o leitor é levado
irreversivelmente a pensar na relação que mantém (ou manteve) com o pai.
Foi assim que, noite adentro em
meio à leitura, tive que parar por instantes, pois fui tomado da necessidade
urgente de ouvir Beatles. E, enquanto emendava o Magical Mistery Tour e o Revolver,
como um vistoso balão a ganhar os céus, minha memória foi passeando suavemente
por momentos marcantes vividos com meu pai – felizmente ainda presente e com
muitas histórias ainda por fazer -, desde o seu Antonio jovem gravando coletâneas
em fitas cassete às vistas de um encantado Ricardo ainda pequeno; ele me
apresentando à mitologia dos Fab Four, iniciando-me em um politeísmo rock n’
roll cada vez mais presente em minha vida; nossa proximidade enquanto me
ensinava a dirigir; suas grandes histórias da papelaria Casa Nova e, depois, já
na Maktub; as leituras, gestos, parecenças e divergências compartilhados... Memórias
vívidas e escorregadias como o mantra de um acorde de ‘Tomorrow never knows’.
Pus-me então a pensar na
curiosidade de justamente este livro, após quase um ano parado na minha
estante, ter sido lido primeiro por meu pai e recomendado por ele. Coincidência?
Não de acordo com Ernesto Cony. Como um balão lançado por mãos dedicadas, que
voa aos céus e retorna para onde nasceu, ou um livro assinado pelo pai que é
encontrado pelo filho, anos depois, abandonado em um sebo, as coisas acontecem
de forma pré-determinada, porque tinham que acontecer. Afinal, “não existem
coincidências, logo, as semelhanças, por serem coincidências, também não
existem”.
Por Ricardo Pereira
É por essa e por outras, que as vezes sinto a mesma necessidade urgente de ouvir Wilco, Radiohead, António Zambujo etc...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirVez ou outra vc lembra do episódio da pintura das telhas pelo seu pai muito doido ao som dos Titãs. Após essa leitura, muito tempo depois fica mais fácil compreender o que passou na cabeça do Ricardo menino naquele momento, para que vc não mais esquecesse.
ResponderExcluirMais que foi hilário foi, sem dúvidas. Bjs.
Essa dos Titãs foi demais! rs
ResponderExcluirHá várias outras que pensei em escrever (quebrando a cama com Mario Bros., show do Macca, filme do Doors...), mas ia acabar virando outro livro... hehe
Bjs
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