Bastou um dedo de prosa, um
encontro rápido numa pizzaria. Pronto: meu amigo Ricardo Pereira havia me deixando
curioso quanto ao livro Quase memória,
do jornalista Carlos Heitor Cony.
Disse que seu pai, Antônio, tinha lido, e que
ficou muito emocionado com a trama do volume – chegando, inclusive, a ligar
para o filho quando terminou de ler a última página da obra, para indicar a
sugestão de leitura.
Tio Toninho estava certo. Quase memória, livro assustadoramente simples,
é tocante. Ele apresenta um enredo nada fantástico. Depois de receber um
misterioso – e familiar – envelope, um homem passa o dia relembrando momentos
de sua vida, mais especificamente, ligados à relação que mantivera com o pai enquanto
ele ainda vivia.
Um quase romance, misto de quase
biografia do pai do escritor e quase autobiografia do próprio? Muito mais do
que isso. Uma obra certamente nostálgica, mas que acalma os corações dos que
estão no “limiar da maturidade”. Como eu, por exemplo.
Poderia escrever várias linhas
sobre as memórias que acabei por trazer à tona durante a leitura do livro. E
elas não foram poucas. Ainda assim, o que o volume ofereceu de mais importante,
ao menos para mim, foi a certeza de que a passagem do tempo sempre reservará
grandes coisas.
Foi-se a juventude das primeiras
horas, a urgência; ficou a capacidade de observar melhor as coisas e as pessoas,
de encontrar prazer e emoção nas pequenas mudanças. Sai a velocidade; entra a contemplação.
Meus discos, livros e filmes já
não são páreos para toda a beleza que é viver ao lado de meus familiares,
amigos e conhecidos. Nada se compara à
força grandiosa, complexa e renovadora da vida.
Quase memória é isso: um momento de reflexão. Um atestado de que a
capacidade de viver e morrer, e nesse meio tempo encontrar histórias e pessoas
inesquecíveis, é o que vale.
Tudo o que vem depois não me
importa. Mantenho o envelope fechado.
De qualquer jeito, nos encontraremos num dia ensolarado |
Por Hugo Oliveira
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