"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Emblema de mim mesmo


Bastou um dedo de prosa, um encontro rápido numa pizzaria. Pronto: meu amigo Ricardo Pereira havia me deixando curioso quanto ao livro Quase memória, do jornalista Carlos Heitor Cony.
Disse que seu pai, Antônio, tinha lido, e que ficou muito emocionado com a trama do volume – chegando, inclusive, a ligar para o filho quando terminou de ler a última página da obra, para indicar a sugestão de leitura.
Tio Toninho estava certo. Quase memória, livro assustadoramente simples, é tocante. Ele apresenta um enredo nada fantástico. Depois de receber um misterioso – e familiar – envelope, um homem passa o dia relembrando momentos de sua vida, mais especificamente, ligados à relação que mantivera com o pai enquanto ele ainda vivia.
Um quase romance, misto de quase biografia do pai do escritor e quase autobiografia do próprio? Muito mais do que isso. Uma obra certamente nostálgica, mas que acalma os corações dos que estão no “limiar da maturidade”. Como eu, por exemplo.
Poderia escrever várias linhas sobre as memórias que acabei por trazer à tona durante a leitura do livro. E elas não foram poucas. Ainda assim, o que o volume ofereceu de mais importante, ao menos para mim, foi a certeza de que a passagem do tempo sempre reservará grandes coisas.
Foi-se a juventude das primeiras horas, a urgência; ficou a capacidade de observar melhor as coisas e as pessoas, de encontrar prazer e emoção nas pequenas mudanças.  Sai a velocidade; entra a contemplação.
Meus discos, livros e filmes já não são páreos para toda a beleza que é viver ao lado de meus familiares, amigos e conhecidos.  Nada se compara à força grandiosa, complexa e renovadora da vida.
Quase memória é isso: um momento de reflexão. Um atestado de que a capacidade de viver e morrer, e nesse meio tempo encontrar histórias e pessoas inesquecíveis, é o que vale.
Tudo o que vem depois não me importa. Mantenho o envelope fechado.

De qualquer jeito, nos encontraremos num dia ensolarado

Por Hugo Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário