O amor é tema recorrente na música
pop, responsável tanto por discos lindíssimos quanto por pieguices lamentáveis.
Renato Russo, em uma entrevista, afirmou a vontade de escrever ‘eu te amo’ numa
canção sem que isso soasse brega. Conseguiu no sexto disco de estúdio de sua
banda em “Vamos fazer um filme”.
Mas oito anos antes, em “‘Índios’”,
já havia o sentimento demonstrado em versos inspirados: “É só você que tem a
cura para o meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu
ainda não vi”. O sempre criticado Oswaldo Montenegro, em seu segundo álbum,
lançou “Por brilho”, declaração de amor escrita curiosamente quando do término
de um relacionamento marcante em que o eu lírico afirma a possibilidade de
permanência do amor independente da situação ou distância.
Chico Buarque, maior letrista da
música brasileira, possui uma série de memoráveis canções de amor. Uma de
minhas preferidas é “Valsa brasileira”:
“Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu
Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer”
Bob Dylan, maior letrista do
mundo, entre outras, tem essa:
“Sad-eyed lady of the lowlands
Where the sad-eyed prophet says that no man
comes
My warehouse eyes, my Arabian drums
Should I leave them by your gate
Or, sad-eyed lady, should I wait?”
Uma por que tenho um encantamento
especial está no magnífico Mellon Collie
and the Infinite Sadness, com a carga dramática típica de Billy Corgan:
“too late to turn back now, I’m running out of
sound
and I am changing, changing
and if we died right now, this fool you love
somehow
is here with you”
Poderia ainda citar versos de
Roberto e Erasmo, “Something”, “Your Song” e inumeráveis outros exemplos de
declarações de amor na música popular. Mas este texto só existe pela minha
admiração e obsessão recente pelos últimos versos de “Message from Mid-Bar”,
canção do Wilco inexplicavelmente relegada ao b-side do último álbum, The Whole Love. Neles, Jeff Tweedy, de forma ao mesmo tempo
romântica e realista, condensa uma espécie de lirismo niilista com resultado
admirável:
“Then I told you
In my arms
I hate you less
Than the rest
We’re all swine
But you’re all mine”
Por Ricardo Pereira
Obrigada...
ResponderExcluirMaravilhosas canções. E o amor continua sendo um dos mais lindos temas em canções, quando não é brega e superficial, como você mesmo diz.
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