Meu amigo – e companheiro de blog
– Hugo Oliveira pediu que eu interrompesse temporariamente minha interminável
biografia do Dostoievski para ler um livro desses imperdíveis que ele havia
acabado de ler: Os imperfeccionistas,
romance de estreia do escritor inglês Tom Rachman.
O livro conta a história de um
jornal desde sua fundação, há mais de meio século, até os atuais tempos tão difíceis
para a imprensa devido, principalmente, à internet. Mas isso, só aparentemente:
o livro, na verdade, é sobre pessoas. Solitárias, desiludidas, desgastadas pelo
tempo, personagens envolvidas de alguma forma com o jornal têm fragmentos de
sua vida narrados com maestria, revelando os prazeres e infortúnios não apenas
de trabalhar com jornalismo, mas de viver.
Os capítulos são como contos fechados em um determinado personagem, e, desde a primeira narrativa, senti-me
envolvido de forma irreversível com as particularidades de cada uma daquelas
figuras tão reais, com histórias tão cativantes. Relacionamentos fracassados, inseguranças,
o vazio e o desperdício da vida, a morte, o isolamento entre seus pares, o
resgate ilusório de um passado são alguns dos temas abordados, todos
amalgamados por um viés: o da solidão.
Assim, acompanhamos, por exemplo,
personagens seguros e autoritários no trabalho, mas com problemas pessoais que
os levam a inseguranças e ao quase esgotamento de si fora das fronteiras da
redação. E o modo como Rachman conduz a história faz com que figuras secundárias
de um capítulo apareçam mais a frente e, com isso, o leitor tenha outra visão
delas, a partir do desnudamento e aprofundamento de suas características.
A maneira simples e direta com
que os fatos são narrados contribui para o impacto dos acontecimentos e para
que nos identifiquemos – muitas vezes não de forma confortável – com traços de
personalidade, sentimentos ou mesmo com alguns dos momentos retratados no
romance.
Já assumindo o risco de soar
piegas, é como se cada capítulo espetasse uma região diferente do coração. Mas
o resultado de tanta amargura e melancolia – e é isso o que mais importa no
caso – é uma leitura extremamente prazerosa.
uma gota de sangue em forma verbal |
Por Ricardo Pereira
Que livro interessantíssimo! Contemporâneo e bem pessoal, "liricamente triste", filosófico (de certa forma).
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