"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sábado, 21 de abril de 2012

Os Imperfeccionistas


Meu amigo – e companheiro de blog – Hugo Oliveira pediu que eu interrompesse temporariamente minha interminável biografia do Dostoievski para ler um livro desses imperdíveis que ele havia acabado de ler: Os imperfeccionistas, romance de estreia do escritor inglês Tom Rachman.

O livro conta a história de um jornal desde sua fundação, há mais de meio século, até os atuais tempos tão difíceis para a imprensa devido, principalmente, à internet. Mas isso, só aparentemente: o livro, na verdade, é sobre pessoas. Solitárias, desiludidas, desgastadas pelo tempo, personagens envolvidas de alguma forma com o jornal têm fragmentos de sua vida narrados com maestria, revelando os prazeres e infortúnios não apenas de trabalhar com jornalismo, mas de viver.

Os capítulos são como contos fechados em um determinado personagem, e, desde a primeira narrativa, senti-me envolvido de forma irreversível com as particularidades de cada uma daquelas figuras tão reais, com histórias tão cativantes. Relacionamentos fracassados, inseguranças, o vazio e o desperdício da vida, a morte, o isolamento entre seus pares, o resgate ilusório de um passado são alguns dos temas abordados, todos amalgamados por um viés: o da solidão.

Assim, acompanhamos, por exemplo, personagens seguros e autoritários no trabalho, mas com problemas pessoais que os levam a inseguranças e ao quase esgotamento de si fora das fronteiras da redação. E o modo como Rachman conduz a história faz com que figuras secundárias de um capítulo apareçam mais a frente e, com isso, o leitor tenha outra visão delas, a partir do desnudamento e aprofundamento de suas características.

A maneira simples e direta com que os fatos são narrados contribui para o impacto dos acontecimentos e para que nos identifiquemos – muitas vezes não de forma confortável – com traços de personalidade, sentimentos ou mesmo com alguns dos momentos retratados no romance.

Já assumindo o risco de soar piegas, é como se cada capítulo espetasse uma região diferente do coração. Mas o resultado de tanta amargura e melancolia – e é isso o que mais importa no caso – é uma leitura extremamente prazerosa.

uma gota de sangue em forma verbal
 Por Ricardo Pereira

Um comentário:

  1. Que livro interessantíssimo! Contemporâneo e bem pessoal, "liricamente triste", filosófico (de certa forma).

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