"Mas o que estou querendo dizer, sabe, é que a morte é mal interpretada. A perda da nossa vida não é a maior. Não chega nem a ser perda. Para os outros, talvez, mas para nós, não. Para quem morre, a vivência simplesmente cessa. Para quem morre, não há perda. Entende? E talvez esse seja um jogo de palavras também, já que não torna a morte menos assustadora, não é mesmo?
O que realmente temo é o tempo. Ele é o verdadeiro demônio: fustiga-nos quando preferíamos ficar à toa, levando o presente a passar a toda a velocidade, impossível de ser contido, e quando se vê, tudo se torna passado, um passado que não se aquieta, que flui, formando histórias espúrias. Meu passado... não parece nem um pouco real. A pessoa que o vivenciou não fui eu. É como se o meu eu atual estivesse sempre se dissolvendo. Tem aquela frase de Heráclito: "Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, pois as águas já não são as mesmas, nem a pessoa". Está certíssima. Gostamos dessa ilusão de continuidade e a chamamos de lembrança. O que explica, talvez, por que nosso maior temor não é o fim da vida, mas o fim das lembranças.
(...)
Sabe aquele ditado idiota, "Nascemos e morremos sozinhos"? É uma besteira. Nascemos e morremos cercados. Somente nesse ínterim ficamos sós."
(Trecho de Os Imperfeccionistas, de Tom Rachman)
Por Ricardo Pereira
Foda demais, né? Esse livro é destruidor, cara. Em todos os sentidos. Abraços!
ResponderExcluirHugo Oliveira
Muito bom, cara. Cada capítulo mexe de forma diferente, há muita beleza, amargura e nostalgia expressas de forma simples - e isso é um elogio, só engrandece a narrativa! Excelente recomendação!
ResponderExcluirAbraço
Pelo visto é uma super obra. Só preciso não me esquecer dele, e um dia compra-lo. hehe
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