Será possível determinar a origem
de nossas paixões? Muitas são causas diretas da criação recebida, outras
adquiridas nas tortuosas reentrâncias da existência. E há aquelas, das mais
bonitas, que já trazemos tatuadas na alma ao chegarmos a este mundo, só
esperando o momento de ter seu brilho reconhecido.
Os desfiles carnavalescos, a
paixão por uma escola de samba, podem ser vistos como um enigma para quem não
os vivencia. Diferentemente de um clube de futebol, que tem o envolvimento
renovado semanalmente, ou de um artista cuja obra pode ser contemplada até
diariamente, uma escola de samba tem seu grande momento em um evento anual. Toda
a paixão concentrada em um ano descarregada ali durante mágicos oitenta
minutos.
Fruto apenas aparente do local de
sua criação, a Mocidade Independente de Padre Miguel surgiu desde a infância em
sua vida como (a primeira?) paixão arrebatadora. A estrela verde e branca do
subúrbio carioca coloria seu coraçãozinho infantil com a intensidade
deslumbrante que a beleza de um carnaval pode trazer a quem for capaz de o
observar com os olhos puros. E ano a ano foi acostumando, emocionada, a se
orgulhar, torcer, chorar, sorrir e às vezes se indignar com a passagem de sua
Mocidade pela avenida.
Ia crescendo e adquirindo,
gradativamente, maior consciência política. E a mudança para uma cidade menor
foi o cenário perfeito para a manifestação de sua segunda estrela. Não mais o
verde e branco de esperança e inocência dos primeiros anos, mas o vermelho de
sangue e luta de uma adolescente encantada com o ideário do Partido dos
Trabalhadores. Com o broche no peito – duas letras, uma estrela – acompanhou passeatas,
reuniões, expectativa e ansiedade em apurações intermináveis de eleições que
foram, aos poucos, entre alegrias e frustrações, redefinindo seus conceitos e
pensamentos em seu processo de formação.
A terceira estrela manifestou-se
mais tarde, em uma noite de quinta-feira num Maracanã ainda lambendo as feridas
de um título tomado no apito apenas quatro dias antes. Com milhares de corações
expostos de um amor exacerbado pela injustiça recente, sentiu-se invadida pelo
preto e branco daquela estrela gloriosa, solitária no nome, mas não em seu
coração. Pois este pulsa iluminado pelo brilho de três estrelas, que às vezes
trouxeram, sim, doses de frustração, afinal cada uma delas depende de homens
para continuar sua história e muitos a decepcionaram em diferentes circunstâncias.
Mas as três possuem luz própria e irradiante maior do que qualquer infeliz
momento transitório. E é esta certeza que ilumina o caminho desta menina,
mulher acompanhada sempre por três estrelas quando muitos vivem toda a existência
a procurar por uma que possa lhes facilitar a travessia.
Amei demais!!! Amo sua capacidade de conhecer as pessoas de verdade. Ai se você soubesse o poder que tem nas mãos... Vamos trocar de profissão irmão.
ResponderExcluirAss.: A menina das três estrelas!
Eu tenho certeza que ele vai descobrir o poder que tem nas mãos, menina das três estrelas. E vai ser rápido!
ResponderExcluirBeijos!
Torcida é que não falta!
ResponderExcluirNão mesmo, Hugo!
ResponderExcluirParabéns, Cado :) Muito lindo o texto.
Beijos