O plano de leituras para 2012 era
terminar a biografia de Dostoievski, mas fechei apenas o quarto volume,
interrompendo a leitura para reler O
Idiota e ler o último Dostoievski que me faltava, Os Demônios. Vou para o último volume da biografia assim que sair O Adolescente da editora 34, que preciso
reler e aí sim fechar a obra monumental de Joseph Frank.
Aproveitei para me aventurar por
outras paragens. De música, li o bom The
Doors por The Doors, que, cedendo a palavra aos integrantes da banda
consegue acrescentar uma ou outra informação até a quem já leu tudo sobre eles;
o excelente Os sonhos não envelhecem,
sobre o Clube da Esquina, me fez retornar ao Lô Borges e, antes tarde do que
nunca, descobrir o Milton; e a biografia do David Bowie responsável pelo
aprofundamento em seus mágicos álbuns dos anos 70.
De literatura brasileira,
revisitei Suassuna e Jorge Amado por motivos profissionais; fiquei
impressionado com a força do texto de Raduan Nassar em Um copo de cólera; encantei-me com o Quase Memória; e me decepcionei fortemente com os fracos José, do Rubem Fonseca, e suas páginas
inteiras copiadas de suas crônicas antigas, e O Livro Branco, contos de diversos autores inspirados na obra dos
Beatles. Uma boa ideia desperdiçada por textos fracos, salvo uma ou outra
exceção.
E, de fora, li o bom Cães Negros, do Ian McEwan; o forte O Livro dos homens sem luz, do português
João Tordo – autor que conheci através de uma entrevista e que vale ficar
atento a seu trabalho; gostei demais do tão comentado Liberdade, pretensioso romance de Jonathan Franzen, que pretende
traçar um panorama da política e cultura norte-americana das últimas décadas
através da análise comportamental de personagens cativantes, além, é claro, das
várias citações a heróis da casa como Wilco, R.E.M., Sopranos, entre outros
ícones.
Dois romances sobre a passagem do
tempo e suas consequências, tema sempre relevante e responsável, de certa
forma, pela existência deste blog, foram os que mais me cativaram: Os Imperfeccionistas, de Tom Rachman, e A visita cruel do tempo, da Jennifer
Egan. O primeiro, indicação de meu amigo Hugo, tem como pano de fundo a
história de um jornal e seus funcionários ao longo do tempo e trabalha toda a
melancolia e desesperança trazidas pelo passar dos anos. Rachman possui a escrita
simples, mas eficiente, o livro emociona e traz identificação, muitas vezes de
forma dolorosa. Jennifer Egan conheci na última FLIP, na palestra a que fui
assistir por causa do Ian McEwan, e foi a grande descoberta literária do ano. A visita cruel do tempo, assim como Liberdade, possui uma série de
referências rock n’ roll (já seria o rock o novo jazz?) e é muitíssimo bem
escrito. Egan mostra virtuosismo narrativo sem pedantismo, alterna
frequentemente o foco da narrativa, vai e volta no tempo, arrisca um capítulo
inteiro no formato de planilha de Power Point e outro na inusual segunda
pessoa. Os capítulos funcionam individualmente e se integram à perfeição, cada
um deles forte o suficiente para envolver o leitor e dar prosseguimento ao
enredo proposto de forma mais do que satisfatória.
Fora esses, passei parte do ano
engalfinhado com as Obras Completas
de Drummond, li uns três contos antigos do McEwan, além do eterno retorno a
Borges, Rosa e Fonseca, sempre presentes.
Leituras 2012:
Dostoievski, Os Anos Milagrosos (1865 a 1871) – Joseph Frank
O Idiota – Fiodor M. Dostoiévski
Os Demônios - Fiodor M. Dostoiévski
José – Rubem Fonseca
Mar Morto – Jorge Amado
O auto da Compadecida – Ariano Suassuna
O Livro dos homens sem luz – João Tordo
Cães Negros – Ian McEwan
Um copo de cólera – Raduan Nassar
Os sonhos não envelhecem – Márcio Borges
The Doors por The
Doors – Ben
Fong-Torres
Quase Memória – Carlos Heitor Cony
O Livro Branco – Org. Henrique Rodrigues
Bowie, A Biografia – Marc Spitz
Liberdade – Jonathan Franzen
Os Imperfeccionistas – Tom Rachman
A visita cruel do tempo – Jennifer Egan
Por Ricardo Pereira