É normal, desmentindo o poetinha,
conseguir ser feliz sozinho? Estar plenamente satisfeito tão só? Estar em paz
sem ver ninguém, sem ouvir uma voz amiga a ponto de, na hora de dormir, pensar
que deveria estar mal por estar bem? Desvirtuar a música que o fazia rir na
adolescência, trocando, de certa forma, uma menina quente e macia por filmes,
livros e discos de gritaria? Querer estar sóbrio num mundo que praticamente
implora que se esteja minimamente inconsciente? 'São tantas perguntas que
atropelam minha vontade de raciocinar...
... então, um brinde imaginário
ao mestre Aldir, que parece saber mais sobre mim do que eu mesmo:
“as coisas que eu sei de mim
são pivetes da cidade
pedem, insistem e eu
me sinto pouco a vontade.
fechado dentro do taxi,
numa transversal do tempo,
acho que o amor é a ausência
de engarrafamento.
as coisas que eu sei de mim
tentam vencer a distância
e é como se aguardassem,
feridas, numa ambulância.
as pobres coisas que eu sei
podem morrer, mas espero
como se houvesse um sinal
sem sair do amarelo.”
Por Ricardo Pereira
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