Depois de um final de semana
voltado a outras questões profissionais, eis que retornei à Festa Internacional
de Teatro de Angra – Fita na segunda-feira, 13 de junho, para assistir a dois
espetáculos do gênero comédia nas tendas instaladas na Praia do Anil. Porém,
antes de oferecer minhas impressões sobre as citadas peças, voltemos ao dia 10
de junho, sexta-feira, para algumas linhas a respeito do que assisti naquele
ótimo dia.
Às 19h30, o ator Thiago Lacerda
subiu ao Palco Sesc – Mostra de sucesso com um elenco afiadíssimo ao seu lado,
para encenar Medida por medida, uma
peça de Shakespeare que, por conta de sua temática, continua muito atual. A
história de um juiz que resolve colocar outro profissional em seu lugar, na
intenção de observar o que o homem faz quando tem o poder nas mãos, é, mais do
que uma crítica aos abusos causados pela falta de ética e de bom senso, uma
mensagem a nós mesmos: somos absurdamente parecidos com aqueles que criticamos.
Mais do que gostaríamos.
Quando vemos em cena que as leis
que deveriam valer para todos, na verdade, atingem-nos de diferentes maneiras,
entendemos perfeitamente o que o escritor e jornalista inglês George Orwell
quis nos dizer através de uma passagem do livro A revolução dos bichos. Todos os animais são iguais, mas uns são
mais iguais do que os outros. E assim seguimos.
Medida por medida (crédito da foto: Adriano Fagundes) |
Mais tarde, às 21h45, a atrizes Beth
Zalcman e Simone Kalil subiram ao palco do Teatro Municipal de Angra dos Reis
para brindar o público com um dos espetáculos mais simples e emocionantes desta
edição da Fita, Brimas. Duas mulheres
imigrantes que vivem hoje no Brasil, vindas do Oriente Médio e oriundas de
cidades e correntes religiosas diferentes, relembram com alegria, dor e saudosismo
das passagens e pessoas especiais em suas vidas. Tudo isso, embaladas por
cheiros e sabores de uma cozinha que mais do que alimentar, pacifica o corpo e
a alma.
É muito fácil gostar de uma peça
que começa com as protagonistas distribuindo quibes à plateia, e que segue mesclando
trechos engraçadíssimos com interpretações assustadoramente fidedignas daqueles
que, por conta de conflitos variados, tiveram que sair de seus países e tentar
a vida em outros cantos do mundo; difícil é não se emocionar com um texto que
beira à perfeição e foge de fórmulas fáceis para fazer sorrir ou chorar.
Eu estava na terceira fileira, do
lado direito de quem assistia ao espetáculo. Ester, interpretada por Beth
Zalcman, arrumava-se para um velório que, no meu entendimento, era o dela
mesmo. Sua prima, Marion – Simone Kalil –, pergunta para ela. “E agora? Quem é
que vai organizar o meu velório?”
Ester sorri, sabendo que tudo vai
se ajeitar. Pede um copo d’água e faz um brinde a todos que não tiveram chance
de beber quando estavam com sede. Sorve
o líquido enquanto a luz se apaga.
Então, no escuro do teatro, em
meio a uma salva de palmas, você entende que a arte vai além do encantamento. É
algo que nos dá esperança de um mundo melhor, de pessoas melhores.
Sigo acreditando na cultura.
Sempre.
Brimas (crédito da foto: Guga Melgar) |
Por Hugo Oliveira
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