"There's a fear I keep so deep / Knew it name since before I could speak (...) If some night I don't come home / Please don't think I've left you alone"- Keep The Car Running, Arcade Fire

sábado, 30 de abril de 2011

Idiota é quem faz idiotices

Eu até tento. Troco o canal, pego uma revista ou qualquer outra coisa para ler, vasculho meus CD's em busca de algo que não escuto há muito tempo... Mesmo assim, não resisto: quando ligo a TV e dou de cara com Tom Hanks no papel do "idiota" Forrest Gump, já era. Sei que vou ter que rever até o final.
Assisti ao filme pela primeira vez no saudoso Cine Araribóia, em Angra dos Reis - acho que foi em 1994. Eu tinha 16 anos. Não sabia nada da vida... Aliás, isso não mudou muito (risos sem graça).

Tenho mesmo que falar um pouco sobre o enredo do filme? Você vai ousar dizer que não assistiu? Ok, vou tentar: sabe a história dos Estados Unidos a partir dos anos 50? Então:  seguindo a trajetória de um garoto, err, "lentinho", vamos passando pelos principais fatos que marcaram aquele país. Do nascimento de Elvis à Guerra do Vietnã; do assassinato de Martin Luther King à criação da Apple. Está tudo lá, de uma forma compacta e pop.

No fundo, no fundo, todo mundo é meio lentinho. Todos têm medo do futuro. Quem não tem/teve um amor de verdade, que atire a primeira pedra - não no Forrest, por favor. Nossa vida é assim: num minuto somos heróis, gênios e/ou populares; no outro, somos apenas paspalhões, babacas, sofredores e pessimistas. A vida é uma caixa de chocolates... Você nunca sabe o que vai encontrar dentro dela. Na verdade, até sabe. Só desconhece o momento em que determinado "bombom" será aberto. E aí, é aquilo: numa hora, "Serenata de Amor"; na outra, "Bombom do Fofão".

Neste momento estou de dieta. Não como nada, não sinto nada. Estou naquela fase do filme em que Forrest só tem vontade de correr. Sem parar. Sem destino. Em alguns momentos, como quando a noite está estrelada ou quando a lua está cheia, é lindo; em outros, do tipo "chuva forte no meio do caminho", é ruim.

Quando, no final do filme, Jenny - a linda e problemática amada de Forrest -, à beira da morte, conversa com ele a respeito dos lugares e situações que o próprio visitou/vicenciou, e em seguida, afirma que gostaria de ter estado lá com ele, recebe a seguinte declaração do rapaz. "Você estava".

Muitas pessoas sempre estarão ao nosso lado, para o resto de nossas vidas. Outras sairão da mesma forma que entraram. É assim. E é simples. Difícil mesmo é chegar num ponto em que todas as reviravoltas da vida sejam recebidas de uma forma leve, como uma pena.

Como a pena que inicia e também termina "Forrest Gump - o contador de histórias".


Run, Hugo, Run!
     Por Hugo Oliveira

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Imitação da vida

Estou há alguns dias para escrever discordando do meu amigo Hugo, que no belo texto em homenagem ao Joey Ramone aqui embaixo afirma que “o mundo é, sim, maravilhoso”. O que não faltava era argumento provando o quão merda o mundo é, basta olhar para o lado e perceber tanta maldade, inveja, interesse, crueldade, solidão...

Mas hoje uma amiga de infância postou no facebook uma foto de 1995 de uma das várias despedidas de nossa turma de oitava série e pensei que ali o mundo era maravilhoso sim! E agora à noite aqui em casa sozinho ouvindo músicas aleatórias como meu pai fazia na minha infância comecei a resgatar momentos em que o mundo se faz parecer maravilhoso. Como...

... o dia em que estava andando com meu afilhado por Bangu e entramos num sebo por acaso e comecei a procurar algum bom livro e de repente me deparei com o ‘Cem anos de solidão’, retirei-o da estante e mostrei para ele: “Renato, esse é dos melhores livros da minha vida” e ao abrir o antigo livro vi a assinatura do meu pai “Antonio 19/4/86”. Comprei na hora e o livro voltou para onde nunca devia ter saído.

... apaixonado, em um fascinante e intenso aparente ‘romance de verão’, voltava para casa de veraneio dela, em frente à dos meus pais, deixando-a em casa, ela voltaria no dia seguinte e sabe-se lá quando nos veríamos novamente. Controlando a vontade de chorar, eu olhava para as reentrâncias do asfalto para marcar e poder olhar nos dias seguintes e lembrar de quando estava com ela, sem saber do quanto ela se faria presente e importante nos próximos anos.

... o dia do meu aniversário de 26 anos, que passei com meu irmão no Circo Voador, show do Caetano do e assim que deu meia noite ele me deu os parabéns enquanto ambos emocionados ouvíamos uma versão torta e rock n’ roll de ‘Sampa’.

... os dias em que eu e Hugo matávamos aula do pré-vestibular para conversar sobre a vida, Smiths, um futuro que parecia tão distante e, às vezes, tocar violão e cantar nos intervalos do cantor no ‘Dom Paco’.

... a primeira vez em que levei minha irmã no Maracanã, um Botafogo x Atlético em que ganhamos de 2 x 1 e ela descobriu-se alvinegra, com toda a sua glória, sofrimento e orgulho, para sempre.

... os dias em que voltei para a casa dos meus pais e ouvia discos com minha mãe e mostrava as canções para ela, fazendo questão que ela prestasse atenção nas letras, em casa detalhe, enquanto tomávamos um vinhozinho e nos deixávamos levar pelas canções.

... uma tarde em que, ainda pré-adolescente, meu pai me pegou numa locadora e me levou para Moça Bonita para ver um jogo do Botafogo e “ver o Túlio” perdendo um monte de gols e ainda assim sair orgulhoso pra caramba de estar descobrindo o que é ser Botafogo.

... os dias de “sonho e de som” na faculdade, matando aula para ir à reitoria beber e ter conversas não apenas importantes, mas fundamentais.

... os encontros do ‘conselho’, em que cada um a seu modo se ajuda, se identifica e até percebe-se agindo como o outro surpreendentemente (?).

... sair do show do Moptop (ou Hermanos, ou Mombojó) procurando ainda um programa para o fim de noite andando pela cidade como se fosse nosso condomínio.

... os churrascos na Giane, ouvindo Roberto e/ou Revela na altura e cantando alto se emocionando, como se sentíssemos cada canção pela primeira vez.

... um começo de ano que passei com meu primo, assistindo Woody Allen, debatendo cada filme e suas ressonâncias e nos ajudando mais do que podíamos imaginar.

... alguns encontros fortuitos, inesperados, na maioria das vezes fugazes, mas importantíssimos para me trazer de volta da escuridão.

E ao pensar nisso tudo até dá pra quase acreditar nessa ideia do mundo ser maravilhoso. E você argumentará, talvez com razão, que a beleza se faz é desses pequenos momentos. Pode até ser, se formos capazes de acreditar que os mesmos valem mais do que a maior parte do tempo em que passamos angustiados, estagnados, impregnados de realidade. 


Por Ricardo Pereira

terça-feira, 26 de abril de 2011

Joey se foi

Nunca fui um grande fã dos Ramones. Banda formada em Nova York, na primeira metade dos anos 70, ela foi uma das principais responsáveis, para o bem ou para o mal, da popularização de um movimento musical conhecido como punk rock. Guitarras baratas fazendo três acordes maltratados e distorcidos; baterias aceleradas, sem viradas de 10 minutos; baixos simples, mas marcantes, pontuando as canções de uma forma inédita. Vocais gritados, sem técnica, com letras que retratavam os problemas sociais e o cotidiano dos garotos pobres ao redor do mundo.
O vocalista do quarteto nascido em Queens, subúrbio de N.Y, Joey Ramone, era uma das personalidades mais adoradas do estilo. E uma das mais atormentadas, também. Fosse quanto à situação de seu conjunto – que nunca conseguiu o reconhecimento merecido – ou na sua vida pessoal – perdeu a amada namorada para o guitarrista de sua própria banda, Jonnhy –, o “altão”, famoso por cantar segurando o pedestal numa postura cool pra cacete, sempre me pareceu um cara tristonho. Infeliz, até. Tive certeza disso quando assisti ao documentário “End of the century – The story of the Ramones ”, que conta a história do conjunto de uma forma muito verdadeira. E cruel. Imagine um grupo que inventou um estilo que continua reverberando ao longo dos anos, mas que, ao contrário do que se imagina, não lucrou com a invenção – fosse com fama ou dinheiro. Pense agora que essa banda teve que assistir a várias outras pegando a fórmula e fazendo fortuna em cima disso. Some brigas, drogas, bebedeiras e personalidades diferentes – e até psicóticas – dentro do conjunto ao coquetel. O resultado não poderia ser pior. Depois que a namorada trocou Joey por Jonnhy, eles nunca mais foram amigos, e passaram a trocar apenas as palavras essenciais. Consegue imaginar o clima dentro da banda como deveria ser? Pois é: ter uma banda nem sempre é tão divertido quanto parece...

Joey se foi no dia 15 de abril de 2001. De câncer, como seu companheiro/rival, Jonnhy – este, em 2004. Apesar do punk ser conhecido como um ritmo agressivo, o ex-vocalista dos Ramones sempre foi um compositor muito romântico, fosse nas músicas rápidas ou nas baladas da banda. Em homenagem aos 10 anos da morte do cara, segue uma versão que ele gravou no seu primeiro – e último – disco solo, “Don't worry about me”.
Você que está lendo, assim como eu, pode não considerar o quarteto americano como a melhor coisa do mundo. Mesmo assim, a importância dos Ramones para a música – rock, pop – é inegável.
Minha primeira banda tocava “Blitzkrieg bop”, um dos grandes hinos do grupo. Agora, sem um conjunto, mas discotecando, sempre aperto o play para “What a wonderful world”. Aperte também. O mundo é, sim, maravilhoso. E esta é pra você, Joey.

One, two, three four...




Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobre o (e a falta de) tempo

O tempo corrido do mundo atual, que nos transforma a todos em maníacos ansiosos, tem, cada vez mais, jogado contra mim. Anteontem contei quantos já assisti do ‘1001 filmes para ver antes de morrer’ e cheguei à ridícula marca de 124 filmes (agora 126...), vou adiantar isso aí pra pelo menos chegar aos quinhentos o mais rápido que conseguir...

Mas como conciliar assistir filmes, ouvir os discos que sentir vontade e ainda conferir os lançamentos, ler romances, biografias, clássicos e livros de sua área de atuação, ter uma vida social, ver os amigos, dormir (olha o tempo perdido aí!!) e... ah, trabalhar, pra sustentar isso aí tudo?

Toda tranquilidade que eu tenho ou aparento ter tá indo embora por não conseguir organizar meu tempo de forma satisfatória. Tive aí praticamente uma semana de quase férias, acho que fiz bastante coisa, assisti a seis filmes (‘waking life’, ‘mary & max’, ‘os pássaros’, ‘chinatown’, ‘meu mundo em perigo’ e ‘cisne negro’ – só esse no cinema), ouvi vários discos (os doze do Roberto pra escrever as análises, várias vezes o novo do Camelo, algumas os últimos Wander Wildner, REM e outros aleatórios), interrompi a releitura do ‘Memórias do Subterrâneo’ para mergulhar na biografia do Roberto Carlos que o Cadu me emprestou, assisti a um bocado de futebol, andei voltando ao violão porque tenho que melhorar de novo... E ainda assim fui dormir puto ontem com a consciência pesada de estar perdendo tempo...

Eu sei, é fase de ansiedade, de querer fazer tudo ao mesmo tempo... Mas é algo que vez ou outra me angustia saber que a gente vai morrer sem ter lido todos os livros e assistido a todos os filmes que gostaria.

A sensação de estar perdendo tempo com inutilidades é que me arrebenta quando penso nisso. E sei que as pessoas estão absolutamente certas quando dizem que tenho que cuidar da minha saúde, ser mais saudável e toda essa conversa cada vez mais comum. Assim como entendo que vou ficar cada vez mais sozinho pra caralho por não querer abrir mão da minha individualidade e do meu egocentrismo “nem por você nem por ninguém” e também pelo medo de sofrer tudo de novo por uns parcos bons momentos.

Enfim... “na verdade continuo sobre a mesma condição, distraindo a verdade, enganando o coração”, como dizia uma canção daquela banda que gosto tanto e não tenho ouvido muito por falta de... tempo.

Por Ricardo Pereira

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Roberto Carlos 1974 - 1979

Agora estamos chegando no meio da década de 70. Roberto Carlos é o maior ídolo pop do Brasil, seu amadurecimento na transição de representante da juventude iê-iê-iê para ícone romântico o encaminha para a figura mítica que o Brasil carrega como patrimônio não só cultural, mas emocional. Seus discos, lançados a cada Natal, tornam-se tradição de fim-de-ano  e batem a marca de um milhão de cópias vendidas, chegando ao dobro disso no final da década.

Roberto Carlos - 1974

 
Este é um dos maiores sucessos da discografia de Roberto Carlos. É um disco recheado de sucessos como ‘O Portão’ e seu refrão antológico; a delicada ‘Você’; ‘É preciso saber viver’, cuja versão original tem muito mais vitalidade do que a que os Titãs cometeram, ‘Quero ver você de perto’, de Benito de Paula; e ‘Eu quero apenas’, em que o Rei canta o desejo de ter um milhão de amigos.

É aqui também que Roberto se estabelece como grande intérprete romântico, vertente que prevaleceria em sua obra pelos próximos anos. E é nesta seara que o Rei brilha em uma versão enxuta de ‘A deusa da minha rua’ e na dobradinha de cortar os pulsos ‘Ternura antiga’, de Dolores Duran, e ‘Você’.

Destaco duas escondidinhas ali no lado B que sempre me emocionam. ‘Jogo de damas’, de Isolda e Milton Carlos, e ‘A estação’, de Roberto e Erasmo, canções intensas com refrãos fortes, bons de cantar junto.

Roberto Carlos - 1975

 
O disco começa muito mal com uma regravação desnecessária e pasteurizada de ‘Quero que vá tudo pro inferno’, uma inocente ‘O quintal do vizinho’ e ‘Inolvidable’, uma canção em espanhol que nada acrescenta. Felizmente, a partir da quarta faixa o disco mostra a que veio com as boas ‘Amanheceu’ e ‘Existe algo errado’ e a belíssima ‘Olha’, que fecha o primeiro lado.

O segundo é bastante melhor. Começa com a balançada ‘Além do horizonte’ (e Deus perdoe o Jota Quest pela tenebrosa regravação), tem a boa ‘Elas por elas’ e a interessante ‘Desenhos na parede’. O grande destaque do disco é a melhor canção sensual de Roberto e Erasmo, ‘Seu corpo’:

“E embora eu já conheça bem os seus caminhos
Me envolvo e sou tragado pelos seus carinhos
E só me encontro
Se me perco no seu corpo”.

O disco fecha com uma boa releitura de ‘Mucuripe’, extraordinária canção de Fagner e Belchior, mas deixa a sensação de um álbum menor entre os da década de 70.

 Roberto Carlos - 1976

 
Para quem acha Roberto Carlos brega, esse álbum pode facilmente ser usado como argumento, a começar pela capa, cafona até não poder mais...

Nesse disco temos o bom rock ‘Ilegal, imoral ou engorda’; ‘Os seus botões’, canção de forte apelo sexual; e a maravilhosa ‘Um jeito estúpido de te amar’, de Isolda e Milton Carlos. Mas o disco fica marcado mesmo é pela “bregaria”, em momentos de gosto duvidoso, mas que gosto bastante, como ‘Comentários’; ‘A menina e o poeta’, do Wando; e ‘Pelo Avesso’, que consegue ser mais Wando que o próprio.

A grande canção dos disco é ‘Você em minha vida’. Com belos metais, bom refrão e Roberto cantando muito, destaca-se em um disco mediano, talvez um passo a frente do anterior.

Roberto Carlos - 1977

 
Após dois irregulares, Roberto volta com um disco irrepreensível, seu melhor desde 72 e um dos melhores da carreira, o primeiro de três discaços para o fim da década.

Já começa com ‘Amigo’, declaração de amizade a Erasmo, um clássico! Temos lindas baladas como ‘Nosso amor’, ‘Falando sério’, ‘Sinto muito, minha amiga’ e a monumental ‘Cavalgada’. Boas versões de ‘Pra ser só minha mulher’ e ‘Ternura’, a carta de intenções ‘Muito romântico’, de Caetano, ‘Outra vez’, que é da Isolda, mas é muito, muito Roberto Carlos, a nostálgica ‘Jovens tardes de domingo’...

Enfim, um disco para se ouvir inteiro, sem pular nenhuma faixa!

Roberto Carlos - 1978

 
Roberto segue seu bom momento nesse disco, que começa com ‘Fé’, uma de suas canções religiosas de que mais gosto, acerta nas baladas como ‘Mais uma vez’, ‘Música suave’, a ótima ‘Todos os meus rumos’, de Fred Jorge, que encerra o disco, e a dilacerante ‘Tente esquecer’.

É o disco que tem a versão mais bonita de ‘Força estranha’, de Caetano Veloso; a clássica ‘Café da manhã’ – auge da fase “música de motel” (“Pensando bem amanhã eu nem vou trabalhar / Além do mais temos tantas razões pra ficar” é uma beleza!) e ‘Lady Laura’, música que Roberto escreveu para sua mãe e toda vez que ouço me emociono ao pensar na minha.

Roberto Carlos - 1979

 
O disco de 79 confirma a boa fase, fechando uma das melhores sequências de álbuns da carreira de RC. Há a belíssima ‘Abandono’; a meio abolerada ‘Desabafo’, que adoro; mais uma nostálgica, ‘Voltei ao passado’; a homenagem agora para seu pai, ‘Meu querido, meu velho, meu amigo’ e duas “fórmulas de sucesso” que funcionam, ‘Na paz do seu sorriso’ e ‘Me conte a sua história’.

Mas o grande destaque são as duas últimas do disco. ‘Costumes’, uma música perfeita sobre separação, em que o eu - lírico cita “certos velhos costumes” do casal e o quanto estes fazem falta e expressa a dor da perda em versos como:
“De repente ser livre até me assusta
Me aceitar sem você certas vezes me custa
Como posso esquecer dos costumes
Se nem mesmo esqueci de você”, e a última ‘Às vezes penso’, outra daquelas pérolas perdidas na discografia, uma das canções de saudade de que mais gosto. Não importa se eu tenha ou não motivo, sempre sinto o que está sendo cantado.

Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Roberto Carlos 1968 - 1973

Como prometido, vamos às breves análises dos álbuns de Roberto Carlos de 1968 até 1979. Nesse post vamos ao período de 68 a 73. Antes de analisar os discos, já me antecipo a possíveis críticas por ter começado por 68 e ter deixado de fora pelo menos dois discos acima da média e muito importantes para a carreira de Roberto Carlos. Por mais que reconheça a qualidade dos discos de 66 e - principalmente - do Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, discos que, juntos, possuem clássicos da Jovem Guarda como 'Namoradinha de um amigo meu', 'Quando', 'Como é grande meu amor por você', 'Você não serve pra mim' entre outras, preferi me ater aos discos que considero mais relevantes para mim, os que mais ouço.

O Inimitável


Em uma época em que o cantor Paulo Sérgio fazia sucesso emulando Roberto desde as canções às capas de disco, o Rei lançou este O Inimitável. E não poderia estar mais certo quanto ao nome do álbum, por mais imitadores querendo tirar casquinha de seu sucesso na época, nesse nível só mesmo o próprio.

O disco começa matador com ‘E não vou mais deixar você tão só’, ‘Ninguém vai tirar você de mim’ e ‘Se você pensa’, canções de grande energia e frescor pop. Só posso imaginar o impacto que tiveram para os jovens da época.

Aqui, as canções de Roberto e Erasmo começam a alcançar outro patamar. Além de ‘Se você pensa’, temos a belíssima ‘As canções que você fez pra mim’ e se você é dos que reclamam das versões frouxas de Marisa Monte e que o próprio RC faz hoje de ‘Eu te amo, te amo, te amo’, ouça a original e reveja sua opinião!

Ainda há as versões definitivas de ‘Não há dinheiro que pague’, ‘Nem mesmo você’ e ‘Ciúme de você’, além da polêmica – pra época – ‘É meu, é meu, é meu’, em que o eu - lírico diz que tudo o que é de sua amada também pertence a ele. Vai listando as partes do corpo de sua menina e arremata – em 1968! – “tudo o que eu falei, meu bem, e o que não falei também (...) é meu, é meu, é meu”.

Roberto Carlos - 1969

 
Este é um álbum de transição. Bem mais introspectivo do que os anteriores, anuncia a vinda da década de 70, minha preferida da carreira de Roberto Carlos. A capa, mostrando o cantor com um cachimbo, sentado na areia da praia reflexivo anuncia tal introspecção.

É dos meus preferidos. Aqui, percebemos um cuidado maior com o conceito de álbum, um Roberto cantando cada vez melhor, mais seguro. As canções descontraídas da Jovem Guarda vão ficando pra trás, dando lugar a peças melancólicas como ‘As flores do jardim da nossa casa’, ‘Quero ter você perto de mim’ e a brilhante e contundente ‘Sua estupidez’.

E o que era um flerte com o soul, vira namoro sério em números como ‘Nada vai me convencer’, ‘Não vou ficar’, de Tim Maia, e a clássica ‘As curvas da estrada de Santos’, perfeita em tudo, arranjo, execução e interpretação.

Roberto Carlos - 1970

 
Talvez por estar localizado, na discografia, entre dois discos muito superiores, este álbum não seja muito considerado. Voltado para o soul/funk é um tanto irregular, mas apresenta grandes momentos, além de representar um salto em relação à produção.

Gosto muito de ‘Uma palavra amiga’, do hitmaker Getúlio Cortes; da lasciva ‘Vista a roupa, meu bem’, com voz abafada e um clima de música dos anos 20, o funk ‘Se eu pudesse voltar no tempo’; de ‘Preciso lhe encontrar’ com a beleza que é seu arranjo de cordas; e da romântica ‘Maior que o meu amor’, de Renato Barros.

O disco ficou marcado por conter a primeira canção religiosa gravada por Roberto Carlos, o poderoso gospel ‘Jesus Cristo’. Mas minha favorita é ‘120... 150... 200 km por hora’, uma canção quase cinematográfica sobre o desespero, na qual acompanhamos um homem fugindo de um passado que insiste em atormentar sua mente. Acompanhamos este sujeito acelerar seu carro à medida que a angústia domina seu coração e, sem perceber, sofremos junto com ele.

Roberto Carlos - 1971

 
Se você deseja conhecer a obra de Roberto Carlos e nunca ouviu nenhum disco de estúdio dele, é por aqui que deve começar. É o melhor álbum de sua carreira, um clássico da música brasileira, desde a capa à qualidade das canções.

O disco começa com ‘Detalhes’, “A” canção de fim de relacionamento. Por mais desgastada que esteja pela repetição, sempre me emociona ao colocar o disco pra tocar. Mal nos recompomos das reminiscências que trarão as lembranças do antigo amor e o disco segue com ‘Como dois e dois’, maravilhosa canção de Caetano que, aqui, aparece como um blues, em sua melhor versão.

E assim o disco segue, porrada atrás de porrada. Não há uma música ruim, talvez ‘I love you’, que eu rejeitava por ser brega demais e hoje entendo como um exercício de estilo, uma canção com “cara velha” para um sujeito antiquado.

Nesse disco temos ‘Traumas’, uma das melhores canções do Rei; a homenagem a Caetano, ‘Debaixo dos caracóis dos seus cabelos’; souls-funks primorosos como ‘Todos estão surdos’, ‘Eu já tenho um caminho’ e o R&B ‘Não sabe o que vai perder; e as baladas. O que dizer das baladas? ‘Se eu partir’, ‘De tanto amor’, ‘A namorada’, algumas das melhores de sua obra.

Achou brega? Ok, respeito. Mas saiba que amar é brega, meu amigo. E eu também.
 
Roberto Carlos - 1972


Se o 71 é o melhor Roberto Carlos, este 1972 é o meu preferido. Fica ali, junto com o V, Kid A, Automatic for the people, White Album, Blood on the tracks, naquela estante especial dos discos da minha vida.

É o seu disco mais melancólico, “fechadinho”, gosto de cada detalhe dele, a começar pela capa, a mais bonita de todas. Sua primeira canção, ‘À janela’, tem um significado especial para mim (e acho que para meus pais também) por ter marcado minha saída de casa.

Tem ‘Como vai você’, uma das interpretações mais inspiradas de RC; ‘À distância’, outro hit magnífico, a leve crônica do cotidiano ‘Quando as crianças voltarem de férias’; momentos ora desiludidos como ‘Você já me esqueceu’, ora pesados como ‘Por amor’.

Mas, acima de tudo, é o disco que contem ‘O divã’, a obra prima da dupla Roberto/Erasmo, na minha opinião. Assim como em ‘Traumas’, do disco anterior, podemos perceber uma abertura pessoal, nesta, Roberto serve-se do consultório psicanalítico para relembrar seu passado humilde, citando inclusive o acidente sofrido aos seis anos na linha férrea. E quando ele canta “essas recordações me matam”, acredite, ninguém mais poderia cantar dessa forma.

Indispensável.

Roberto Carlos - 1973

 
Este disco não está no nível dos comentados acima. O ouvinte que já tenha algum tipo de preconceito e vai ouvir, provavelmente desistirá de cara, pois a primeira, ‘A cigana’, é cafona até não poder mais...

Mas se esse permanecer ouvindo, na segunda faixa talvez já comece a mudar sua opinião, ‘Atitudes’ possui um belo refrão, cortesia de Getúlio Cortes. Há ‘O moço velho’, de Sylvio César, em uma das melhores interpretações de RC; e a versão mais bonita que já ouvi de ‘El dia que me quieras’.

Roberto e Erasmo estão presentes com uma de suas melhores músicas de fim de relacionamento, ‘Palavras; uma das declarações de amor mais bonitas da dupla, ‘Proposta’; e a canção que fecha o álbum, ‘Rotina’.

Essa é uma que não aparece em nenhum Greatest Hits, mas tem uma letra adorável. Conta a rotina de um casal apaixonado, a ansiedade do homem que, durante o trabalho, não vê a hora de chegar em casa para estar novamente com sua amada. Outros tempos, em que poucas mulheres trabalhavam fora. Uma beleza de canção.

Por Ricardo Pereira

terça-feira, 19 de abril de 2011

Roberto

Hoje é aniversário de Roberto Carlos, 70 anos. As pessoas que me conhecem talvez me associem ao Radiohead, Doors, R.E.M., Beatles e, os mais antigos, a Legião Urbana. Mas provavelmente nenhum deles teve tanta influência para mim quanto o Rei.

Não há outro artista brasileiro que tenha conseguido abranger público tão diversificado quanto Roberto Carlos. Velho ou novo, rico ou pobre, analfabeto ou intelectual, não importa. Há algo nas canções do Rei que é universal e que emociona qualquer um pela identificação.

Lembro que comecei a ouvir ‘de verdade’ seus discos ao sair da adolescência. Antes havia As canções que você fez pra mim, lindo disco que a Bethânia gravou só com músicas de Roberto e Erasmo, e uma fita cassete (depois cd) chamada Palavras, que gravei juntando os discos de meus pais. Nela já havia canções como ‘Proposta’, ‘Tente Esquecer’, ‘Seu Corpo’, ‘Um jeito estúpido de te amar’ entre outras...

Não dá pra medir o quanto a audição dessas e outras pérolas reais alimentou em mim uma ilusão romântica que teima em permanecer e é, ao mesmo tempo, minha salvação e desgraça no que concerne a envolvimentos amorosos.

Além de grande compositor e excelente cantor (por mais que muitos torçam o nariz...), Roberto possui um carisma impressionante, é uma figura extremamente impactante e a prova disso é a força que possui mesmo que, como compositor, não tenha lançado nada de relevante há uns trinta anos.

Até hoje – e tenho certeza de que enquanto eu for vivo – as canções de Roberto me acompanham nos momentos apaixonados ou solitários. E isso é mais do que eu posso querer de qualquer músico, cineasta ou escritor. Por tudo isso, eu agradeço e desejo que Deus continue presente de forma tão marcante em sua vida, marcada pelo imenso sucesso e por perdas tão difíceis.

Para comemorar esta data tão especial, esta semana publicarei, em duas postagens, breves análises dos álbuns de 68 a 79. Discos formidáveis, importantes não só para minha vida pessoal, mas para a história da música popular brasileira.



 Por Ricardo Pereira

De Hugo para Hugo

Hugo Oliveira - Cara, deixa eu te falar...

Hugo Oliveira - Manda, bonitão.

Hugo Oliveira - Além de lindo, inteligente, bom da papo e rico - de saúde -, você também é merecedor de um bom presente de aniversário.

Hugo Oliveira - Sério, Hugão?

Hugo Oliveira - Sério. Sabe o último box set lançado pela Motown, com mais de 200 músicas? Comprei pra você, de aniversário.

Hugo Oliveira - Puta que pariu! Eu mereço?

Hugo Oliveira - Merece, claro. Nós merecemos! Agora é esperar chegar.

Hugo Oliveira - Obrigado, Hugo!

Hugo Oliveira - De nada, cara!





Por Hugo Oliveira... E para Hugo Oliveira

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Quanta coisa!

Firmeza, mano/mina? Bagulho tá loko por aqui.

Trabalho pra caramba - graças a Deus!

Casa em obra - curte poeira e um monte de coisas espalhadas por todos os cantos?

Ainda atordoado, no bom sentido, pelo showzaço do U2 - surpreendente!

Organizando minha própria festa, a Panic!, que vai contar com o... U2 Cover Rio - vai ser legal, garanto!

Sem tempo para ler, ver filmes, ouvir música... Ah, ouvir música ainda rola... Mesmo que rapidinho!

Feche os olhos, respire fundo e coloque aquele sorrisão no rosto. Canções servem pra isso: transportar para outro mundo, um mundo bem melhor e mais calmo.


"There she goes" - The La's - Música bonita demais. Demais.


"Confetti" - Lemonheads - trilha sonora dos meus domingos... Aqui, numa versão porradona, ao vivo.


"Sparky's dream" - Teenage Fanclub - já devo ter postado essa música aqui... Mas não resisto. Não sei do que a canção fala... Mas, para mim, é sobre amor, no melhor sentido.

Por Hugo Oliveira

sábado, 16 de abril de 2011

Os conselhos que vos deixo, por Bruno Aleixo

Tá chateado, cansado, deprimido? Procurando um sentido pra vida? Torce pro Botafogo?

Esse post é pre você, ilumine-se com os sábios conselhos de Bruno Aleixo:




Por Ricardo Pereira

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Visita

Hoje pouca coisa me incomoda, o que nunca é um bom sinal. Mas se posso extrair um destaque deste pouco, seria um arrependimento que me atormenta vez ou outra. Como lidar com ele?

Quando criança, convivia muito com uma espécie de arrependimento. Era muito quieto, muito fechado. Na escola, o gordinho CDF, não falava muito com as pessoas, provavelmente só me notavam quando um ou outro professor elogiava as boas notas ou quando fugia da Educação Física. Lembro de ter começado a falar com as pessoas lá pela sétima, oitava série, quando comecei a ser notado por, sei lá, ter um caderno ‘de músicas’ com letras das canções que eu mais gostava e por ser um dos únicos da sala que sabia de cor a letra de ‘Faroeste Caboclo’ ou de qualquer outra da Legião.

Meu arrependimento aparecia quando eu saía, as poucas vezes que saía com os amigos, para qualquer festa ou simples ida ao shopping. Quando voltava, ficava relembrando cada coisa que falei, cada movimento meu e me arrependia de quase tudo: o medo do ridículo quase me paralisava. O tempo passou e isso foi ficando pra trás, comecei a ganhar confiança, ser cada vez mais espontâneo e perceber que eu só tinha a ganhar com isso.

E fora isso, não tenho grandes arrependimentos na vida. Talvez um ou outro disco que vi barato ou algum difícil de achar que deixei de comprar e quando voltei já haviam levado. Há mulheres que desperdicei por timidez e acabei me sentindo um pouco arrependido. Há uma cena particularmente marcante, de um telefonema da menina por quem eu era apaixonado (há muito, muito tempo) e que ela sondava algum tipo de interesse da minha parte quando embaralhei tudo e demonstrei o contrário. Desliguei o telefone já desesperado e curti uma daquelas dores adolescentes.

E agora (mais) velho já, o tal do arrependimento cisma de querer me visitar. Não sei o que fazer com ele. Aparece quando menos espero e vem entrando sem nem bater na porta, às vezes sussurra em meus ouvidos, em outras me atormenta com gritos lancinantes e uma gargalhada de escárnio. Há uma frase de Schiller, acho: “Breve é a loucura, longo o arrependimento”, algo assim. Foi ele mesmo que me falou; o arrependimento, claro, não Schiller.

Lembra o quanto perdi, no que acabei me transformando, o quanto pessoas passaram a me julgar mal, debocha do quanto a paixão pode cegar e como o meu romantismo de merda me derrubou mais uma vez. Empina o nariz com uma jactância insuportável e, como ser imaterial, vangloria-se de não poder se apaixonar.

Contra ele de nada adiantam os livros lidos, discos ouvidos, meus argumentos parecem sempre fracos e insuficientes... Já recorri ao senso comum de que mais vale se arrepender de ter feito do que de não ter tentado, e ele retoma seu inesgotável arsenal de perdas minhas, implacável...

Venho tentado expulsá-lo e quanto mais me esforço para isso, mais ele insiste. Aguardo a visita do tempo, parceiro de Aldir, para uma conversa. Minha amiga esperança avisou esses dias por sms que só ele para me ajudar... Estou esperando, curtindo meu deserto, procurando não me transformar no fantasma de ninguém e, seguindo o conselho de Vinicius, mantendo a lâmpada acesa e uma bebida por perto, só por precaução...


Por Ricardo Pereira

terça-feira, 12 de abril de 2011

Falando em bandas desconhecidas (anos 60)

Influenciado pela postagem sobre o grupo The Smithereens, vou enfileirando nesta algumas faixas de bandas que, na minha humilde opinião, são injustiçadas... Que deveriam ter mais reconhecimento, ao menos, no Brasil.
Vamos a elas. Para o primeiro lote escolhi conjuntos dos anos 60.


"A rose for Emily" - The Zombies


"Australia" - The Kinks


"Andmoreagain" - Love


"Look through any window" - The Hollies

Por Hugo Oliveira

Pérolas pós-punk

Dia desses resolvi dar uma escutada no box set "Left the dial: dispatches from the 80's underground", que comprei pela loja virtual "Second spin". Várias coisas ruins; outras razoáveis. Uma cacetada de bandas legais.

Entre os bons achados, um grupo intitulado The Smithereens, que faz um rock com ecos de power pop e pós-punk. A faixa presente na caixa, "Behind the wall of sleep", é daquelas lindonas, de botar no "repeat" uma cacetada de vezes.

Os integrantes são feios de dar medo; o clipe é de uma simplicidade só. Mesmo assim, é uma canção deliciosa.

Ouça aí e diga o que achou:



Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dançando com a loucura

Finalmente consegui assistir ao filme "Cisne Negro", do diretor Darren Aronofsky. Beleza: sei que estou "um pouquinho" atrasado, mas a culpa não é minha. Eu moro em Angra dos Reis, e o cinema daqui... Deixa pra lá.
Voltando ao assunto: que espetáculo. Lindo e bizarro. A história de Nina, interpretada brilhantemente - e gostosamente - pela atriz Natalie Portman, vencedora do Oscar 2010 de Melhor Atriz, é daquelas que não dá para piscar os olhos. Mais de 100 minutos de puro suspense, beleza, medo e apreensão.
Partindo de um enredo relativamente simples, sobre uma bailarina que ganha um papel de destaque numa companhia de dança, a película nos leva a uma viagem pelo lado mais negro da psique humana, onde vocábulos como insegurança, inveja e insanidade são figurinhas fáceis.
Nina é perfeccionista; sua mãe, superprotetora. As duas nutrem uma relação estranha, em que a tensão está sempre presente - a personagem da atriz Barbara Hershey desistiu do balé para cuidar da filha... Desde então, passa a pintar quadros.
Aliás, a tensão é o fio condutor do filme. Conseguirá a bailarina interpretar os dois cisnes - o branco, "do bem", e o negro, "do mal", na nova  montagem de "O lago dos cisnes"? Seguirá Nina os conselhos do dono da companhia, Thomas Leroy - Vincent Cassel, em uma excelente atuação -, para que o seu lado, digamos, "devassa", aflore? Estaria a colega de turma descolada, Lilly - Milla Kuynis -, querendo a qualquer custo o lugar da nova primeira bailarina? Todas as respostas são respondidas ao fim da película... Que se não chega a surpreender, também não decepciona.
"Cisne negro" é um filme sobre os bastidores cruéis de uma companhia de dança. Melhor: é uma obra sobre os sórdidos sentimentos que mantemos escondidos na coxia da mente e que, quando revelados, podem causar tragédias.

Em algum lugar, Wellington Menezes de Oliveira, o responsável pelas mortes na escola de Realengo, sorri.
Tenha medo.




Danço eu, dança você, na dança da paranoia
 
Por Hugo Oliveira

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Para quem ainda compra CD

Não sei se você sabe, mas este blog também curte ajudar o próximo. Principalmente se a questão é cultural.

Se liga: para quem,  assim como eu e o Ricardo, ainda compra CD's, a loja virtual gringa "Second Spin" é a pedida de hoje e de sempre. Eles vendem e compram CD's e DVD's usados, com preços ótimos, por sinal. E as promoções? Putz, é demais. Já comprei várias coisas lá, e o serviço é ótimo. Recomendo de olhos fechados. http://www.secondspin.com/.

Até o dia 10 deste mês eles estão com uma promoção arrasadora: se você comprar acima de $30, ganha um desconto de 30%. Delícia, não?

Aprecie com moderação... Ou não!


Como diria o Green Day... Welcome to paradise!
Por Hugo Oliveira

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tiros em Realengo

Ainda é muito cedo para publicar opiniões a respeito do massacre que aconteceu nesta quinta, 7 de abril, na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, quando um ex-aluno da instituição, Welligton Menezes de Oliveira, de 23 anos, atirou em vários estudantes que se encontravam no local - por enquanto, 11 morreram; 22 ficaram feridos.

O responsável pelo ataque, que, segundo informações divulgadas pela grande mídia, suicidou-se após o ato, teria deixado uma carta onde dizia que era portador do vírus HIV.

Hoje em dia a Aids pode ser controlada através de uma mistura de remédios. Mesmo assim, o atirador parece ter preferido um outro coquetel: sensacionalismo + desespero + loucura + notoriedade torta. Um prato cheio para os coleguinhas da imprensa.

Assassinos seriais sempre geram curiosidade. Não importa o sexo, a cor ou a classe social: do engravatado ao catador de latinhas, todo mundo quer o seu quinhão de tragédia... E querem rápido. Afinal de contas, ninguém pode ficar de fora das rodinhas que se formarão no final de semana, nas milhares de mesas de bar do Brasil.

"A violência é tão fascinante/e nossas vidas são tão normais", já dizia o falecido vocalista da banda Legião Urbana, Renato Russo, na canção "Baader-meinhof blues". O escritor Truman Capote também já cantou a pedra em seu clássico "A sangue frio". Cinema? Vários exemplos, mas escolho um que representa muito bem o poder exercido por esse tipo de crime/ação. "Assassinos por natureza", de Oliver Stone - 1994.

Na película em questão, assistimos a história dos personagens Mickey Knox e Mallory Knox, que não apenas sentem prazer em matar e cometer atos violentos, mas também, sabem exatamente como funciona "o jogo". O que eles fazem? Deixam algumas vítimas sobreviverem aos ataques, para que seus atos sejam transmitidos ao mundo, através das próprias vítimas. Em algum lugar um jornalista "marrom" goza litros... Aliás, todos gozam. Todo mundo no "bonde da mea culpa". Até o chão.

É correto afirmar que cada caso é um caso. Aliás, comparar a vida real com um filme - muito verossímil, diga-se de passagem - é injusto, até. Mesmo assim, eis a questão aí, batendo na porta não apenas das escolas de todo o país, mas fazendo "toc-toc" na consciência da nação: por quê?

Não perca o seu tempo pensando. Algumas manchetes, reportagens especiais e programas televisivos depois, todo mundo já esqueceu. Outras atrocidades e tragédias vão aparecer. De repente já é natal, ano novo, e o carnaval começa a chegar.

Todo mundo cantando!

(...) Carnaval, futebol
Não mata, não engorda e não faz mal
Carnaval, futebol
Se joga para cima e vira sol

Vai, vai, vai fica aqui meu avião
Vem, vem, vem que o Brasil não tem vulcão
Vai, vai, vai suba aqui na minha moto
Vem, vem, vem aqui não tem terremoto

Insolação do coração é pouco. Temos uma queimadura de último grau na alma, isso sim.
Fazer o quê? Beber, é claro.
Conheço um boteco ótimo, o "Bar-bárie".
Ah, que inocência a minha...
É claro que você sabe onde fica.





Por Hugo Oliveira




   


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Fofura e distorção

Power pop é isso aí: guitarras distorcidas em canções pop de 3 minutos. Para alegrar o dia de qualquer um.

Inclusive o seu.


"What you do to me" - Teenage Fanclub


"Into your arms" - Lemonheads (ao vivo)


"Buddy Holly" - Weezer


"Hackensack" - Fountains of Wayne (ao vivo)

Por Hugo Oliveira

Além da imaginação (três peitos)

Você chega cansado em casa, depois do trabalho. Aí, quando vai relaxar, liga a televisão e dá de cara com a modelo, cantora, escritora e empresária (????)  Angela Bismarchi, declarando que vai fazer uma cirurgia para implantar o 3º seio.

Não sei se tem a ver com o 1º de abril - dia da mentira. Também não posso afirmar que trata-se de uma brincadeira, tipo pegadinha. Agora, o que eu posso dizer é que, apesar de ser um cara sem muitos preconceitos, acho isso tudo muito bizarro, de mau gosto mesmo. Fundo do poço total.

A justificativa relacionada ao processo cirúrgico é uma pérola inconteste. "Vamos pensar um pouco: se eu engravidasse e quisesse ter trigêmeos... Eu não acho justo eu tá amamentando os dois e deixar um esperando sem amamentar", declara a moça, com um baita sorrisão no rosto.

O escritor português José Saramago disse uma vez, sobre o Twitter. " (...) Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido".

É por aí. De mamilo em mamilo, vamos nos transformar em paus, xoxotas, ânus e peitos que andam. Só isso.

Preciso que implantem mais um saco em mim. Rápido.



Mamilos... São polêmicos!


Por Hugo Oliveira

Atualização: para o bem ou para o mal, o lance era mesmo uma pegadinha - do "Jornal Sensacionalista", que vai estrear no canal Multishow. Mesmo assim, eu não duvido de mais nada.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Brindando Aldir

Sempre digo que todo vascaíno deve se orgulhar tanto quanto das façanhas de Roberto Dinamite, Edmundo, Juninho Pernambucano e tantos outros protagonistas da bela história do clube, de ter entre seus torcedores Paulinho da Viola e Aldir Blanc. O primeiro, a elegância suprema do samba, e o segundo, uma das figuras mais admiráveis do Brasil. Representante de uma boemia que não existe mais, Aldir poderia constar nos verbetes dos dicionários como perfeita definição do que é ser carioca.

Sempre imaginei o quanto deveria ser divertido tomar uns chopes com o autor de clássicos da música brasileira como ‘Dois pra lá, dois pra cá’, ‘O bêbado e a equilibrista’, Kid Cavaquinho’, entre tantas outras. Todo mundo tem seu momento preferido de Aldir. Meu pai gosta muito do lindo poema ‘Choro para bandolim’, escrito em homenagem a filha falecida, eu sou apaixonado por um samba chamado ’50 anos’, e meu amigo Cecel sempre cita o ‘Poemíscuo’, que faço questão de transcrever:

“Faz escuro mas eu cancro,
Vou-me embora de Pasárgada
Lá, me funiquei com o Rei:
chutei uma drag queen,
sobre o peixe vomitei.
Que as belas sirvam a Vinicius
pra fazer letra com o Tom.
Cu de empregada é que é bom.”

Há cerca de dois meses, estava com outro grande amigo, Cadu, esperando para entrar no show do Cidadão Instigado. Conversávamos sobre as letras do Cadáver pega fogo durante o velório, passamos por Lupicínio, quando ele diz que eu precisava ouvir um disco do Aldir Blanc de 2005, chamado Vida Noturna. E na hora mesmo recitou a letra de uma das canções, ‘Lupicínia’.

Já gostando dos versos de cara e sempre atento às excelentes recomendações do Cadu, fui logo atrás do disco. E foi paixão à primeira audição, um disco maravilhoso e que só cresce à medida que conheço melhor cada canção. É um disco forte, uma coleção de sambas-canções, boleros, com violões e pianos delicados, em que Aldir, com sua voz, confere ora gravidade, ora humor, melancolia ou desilusão aos seus versos.

E é justamente nas letras das canções que se encontra o diferencial. Confesso que chega a dar inveja, como eu queria conseguir escrever como Aldir Blanc!! O autor consegue circular entre um lirismo extremamente poético e momentos pesados em crônicas de um cotidiano não só carioca, mas universal. Comum a qualquer um que tenha vivido as agruras da vida e não perde a capacidade de se emocionar.

É até difícil escolher momentos preferidos para citar aqui. Há ‘Dois bombons e uma rosa’ em que o amante congratula a mulher pela escolha sensata de ter se casado, mas adverte para que a mesma não comente o passado pois “não há xampu, não a creme que apague ou que desmarque da tua pele o meu beijo fedendo a conhaque”. A já citada ‘Lupicínia’, espécie de crônica sobre uma enfermeira “com a chama vital de Ana Karenina”, e aos que criticam a citação a Tolstoi, o eu-lírico já rebate: “Ô trouxa, heroínas sem par podem brotar na Rússia ou lá em Água Santa...”. Uma beleza!!

Outro destaque é “Recreio das Meninas II”, uma bem humorada reflexão sobre envelhecer sem perder o essencial. Nesta, o senhor vai de bengala, tossindo, ao samba (“a cura de sua doença”), dá uma cantada numa mulher bem mais moça e ao ser minimamente correspondido (“um riso de aurora acolheu meu ocaso”), a pressão sobe e nosso amigo se esbalda. E nesse renascimento no Renascença, Aldir arremata, mais uma vez certeiro: “Aos que me gozam no bar, dizendo que eu sou o Recreio das Meninas, respondo: - Andorinhas fazem ninho nas ruínas.”

Outra favorita desde a primeira audição é “Dry”, em que o autor dá voz a uma mulher amargurada em uma letra irrepreensível narrando o fim de “um amor de trapaça e de tara, de beijo na nuca, de tapa na cara”. E mais uma vez não posso deixar de transcrever os geniais versos que encerram a canção:

Hoje somente se bebo o dia seguinte pode me afetar
É que a secura me lembra teu jeito de amar.”    

E o disco fecha com “Resposta ao Tempo”, letra de Aldir para música de Cristóvão Bastos, que inclusive é o arranjador do disco e, como sempre, faz um trabalho magnífico. E é com essa que encerro este texto, de uma forma mais bonita do que eu jamais sonharia em conseguir com minhas palavras:

“Batidas na porta da frente
- É o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado
Ele ri
Ele zomba de quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei

Num dia azul de verão, sinto vento
Há folhas no meu coração, é o tempo
Recordo um amor que eu perdi
Ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona,
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
E eu desperto                                                                                                                                               
 E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer"



Por Ricardo Pereira

Ah, o piano (ao vivo)


"Tiny dancer" - Elton John


"Foolish love" - Rufus Wainwright


"I wanna go to Marz" - John Grant

Por Hugo Oliveira

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Discoteca brasileira Vol. 1


"26 anos de vida normal" - Erasmo Carlos


"Errare humanun est" - Jorge Ben


"Swinga sambaby" - Trio Mocotó



"Corrida de jangada" - Elis Regina


"Mestre Jonas" - Sá, Rodrix e Guarabyra


"Tropicália" - Tantra


"Nine out of ten" - Caetano Veloso


"Disparada" - Jair Rodrigues (cantando como se a vida dele dependesse daquilo... Foda demais).

Por Hugo Oliveira

Classe A


"Água da minha sede" - Roberta Sá & Trio Madeira

Voltando do Rio, na última quarta, escutei isso aqui no carro. Achei bonitão.

Por Hugo Oliveira

Mais punk impossível

Cash, Strummer e Marley. Precisa escrever mais?



Por Hugo Oliveira

domingo, 3 de abril de 2011

Os Irmãos Karamázov



Há exatos dez anos eu começava a ler pela primeira vez Os Irmãos Karamázov, magistral romance de Dostoievski. Lembro da extraordinária impressão que a leitura deixou no Ricardo de então, prestes a começar a faculdade, cheio de angústias e incertezas.

E, hoje, ao terminar minha segunda leitura do mesmo romance (desta vez, a excelente edição da Editora 34, com tradução de Paulo Bezerra direta do original russo, o que faz muita diferença) e sentindo a força e poder do mesmo, compreendo perfeitamente a extraordinária influência da obra de Dostoiévski em mim.

O romance, último do autor, condensa as qualidades e temas recorrentes de sua obra e ambiciona um painel da Rússia do final do século XIX, mostrando a deterioração moral da nobreza russa em meio ao crescimento do capitalismo no país. E o faz a partir da família Karamázov em um apanhando impressionante das características de seus integrantes: o pai, Fiódor Pavlovitch, devasso, irresponsável e exagerado; Dmitri Fiódorovitch, inconsequente, impulsivo, ambicioso e agregador de uma fúria e senso de honra aparentemente paradoxais; Ivan Fiódorovitch, intelectual, niilista e questionador; e Alieksiêi, o rapaz portador de um amor ao ser humano e um senso de sinceridade e justiça, que o fazia querido e considerado por todos.

Este último, Aliócha, o herói do romance, segundo o narrador desde o começo da história, em determinado momento de sua vida aproxima-se do convento, para afastar-se do desvario e da maldade que ele via entre os homens. E muito por isso, torna-se a figura a que os demais recorrem nos momentos de crise, em que precisam de uma palavra justa e sincera.

É possível perceber o gênio do autor não só na caracterização dos personagens – cada um possui ideias e formas de expressão absolutamente distintas entre si, de acordo com a respectiva personalidade – mas também no desenvolvimento do romance. Cada fato narrado é de fundamental importância para o desfecho da trama e as situações e personagens secundários inseridos na narrativa possuem um vigor e força que fazem com que o leitor mantenha sempre o interesse no que está sendo contado.

E isso fica evidente na parte final, quando o autor consegue nos deixar ligados e em expectativa crescente ao narrar um julgamento que dura um dia inteiro na história e 121 páginas, em que, mesmo já sabedores do que realmente aconteceu, somos tragados ao recinto a julgar os discursos de acusação da promotoria e de defesa de um orador espetacular. Até eu, que não costumo ter paciência para filmes ou literatura com passagens jurídicas, peguei-me lendo avidamente cada depoimento e argumento apresentado.

Se tivesse que escolher um grande romance da história da literatura mundial, provavelmente ficaria com Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, por sua amplitude e, principalmente por sua linguagem inovadora e incomparável. Mas não sem consciência pesada, pois o relato das desventuras da família Karamázov fica ali, inconformado com o segundo lugar de minha inútil lista hipotética. É meu romance preferido de Dostoiévski, o melhor contador de histórias que já tive a oportunidade de ler.

E ainda resta o inconformismo de saber que o autor morreu tendo como projeto em andamento uma continuação de Os Irmãos Karamázov. Contentemo-nos com o que ficou, uma obra formidável, cuja leitura recomendo vivamente a todos.

 Por Ricardo Pereira

Noite de Clássicos


Venho, cada vez mais, descobrindo o prazer das releituras. Da segunda vez que lemos um livro, por já sabermos do enredo, percebemos melhor as nuances e os aspectos formais da narrativa. E com os filmes acontece o mesmo. Já sem a pressa de saber o que vai acontecer, redescobrimos e encantamo-nos ainda mais com a obra. Foi o que aconteceu comigo na quinta passada ao assistir em sequência a Bastardos Inglórios e ao primeiro O Poderoso Chefão.

Bastardos Inglórios pode não ser o melhor Tarantino, talvez seja mesmo Pulp Fiction ou Cães de Aluguel, mas é certamente o meu preferido. A primeira cena é uma das minhas preferidas de todos os tempos, perfeita em tudo, diálogos, atuações (quando somos apresentados ao ‘caçador de judeus’ Hans Landa, interpretado de forma brilhante por Christoph Waltz) e sutileza. Torna-se a introdução perfeita para um filme magistral. Assisti pela primeira vez a cerca de um ano, e o filme não só manteve o interesse em suas mais de duas horas e meia de duração como me deixou ainda mais encantado. É Tarantino puro em sua forma e conteúdo, mas aqui o humor e até a violência aparecem depurados e incluídos cirurgicamente sempre a favor do que está sendo contado. E, no final, quando Aldo Rayne afirma “Sabe de uma coisa? Acho que foi minha obra prima!”, é como se pudéssemos ouvir o próprio Tarantino metalinguisticamente orgulhoso de sua própria criação.

E uma coincidência besta, mas importante para um botafoguense supersticioso, é que assisti a esse filme pela primeira vez na véspera da final da Taça GB do ano passado e, encantado, assisti novamente logo na manhã seguinte. O filme de certa forma reconta a história, corrigindo com igual violência o massacre contra os judeus, é um filme de vingança.  Era o primeiro Botafogo x Vasco depois da goleada de seis a zero sofrida e, mais tarde, o Botafogo venceu o Vasco, ganhou o primeiro turno e arrancou para o título Carioca. Coincidência? Duvido...


Mas voltando. Mal terminado o Bastardos Inglórios, fui jogado para um dos melhores filmes da história do cinema. Muito já foi falado sobre O Poderoso Chefão e não vou ficar repetindo os diálogos e cenas antológicos. Basta dizer que é a perfeita definição de ‘clássico’, a cada vez que assisto, o filme me parece melhor. Além das atuações perfeitas, trilha sonora magnífica, direção na medida certa, ritmo ágil e envolvente de forma que não sentimos passar as três horas de duração, há também um algo mais, um clima diferenciado, uma espécie de cumplicidade com o espectador.

E este vínculo é fundamental para todo o mito que cerca a série e faz com que fiquemos irreversivelmente do lado da máfia ao assistirmos, encantados com o glamour presentes no clã dos Corleone, extasiados com a extrema dedicação à família e também com seu poder e até com a violência praticada. Essa glamorização da violência e da criminalidade, aliás, é uma das críticas aos filmes. Mas vejo mais como qualidade e mérito de Coppola, por transpor os romances de Mario Puzo contando a máfia a partir do ponto de vista ‘deles’ e, é claro, pelo carisma e as inacreditáveis interpretações de Al Pacino e Marlon Brando.


 Por Ricardo Pereira